domingo, 17 de novembro de 2013

Millenarian Slaves? The Santidade de Jaguaripe and Slave Resistance in the Americas

Escravos milenaristas? A Santidade de Jaguaripe e resistência escrava nas Américas

ALIDA C. METCALF*
Traduzido por: Wilson Oliveira Badaró

RUMORES DE UMA NOVA RELIGIÃO SE ESPALHARAM através das florestas, paróquias, e as plantações de açúcar da Baía de Todos os Santos no interior de Salvador da Bahia, capital da colônia Portuguesa do Brasil, na década de 1580. Por volta de 1585, dezenas de índios, muitos africanos, e praticamente todos os Mamelucos mestiços (os descendentes dos homens portugueses e mulheres indígenas) tinham ouvido falar de uma congregação numa região selvagem, onde os participantes tinham construído seu próprio templo, praticando rituais através dos quais eles alcançaram um estado de santificação conhecido como Santidade. Mamelucos que aderiram à seita mais tarde descreveram os batismos, orações, as falas em línguas, o "beber" a fumaça do tabaco sagrado, e quedas em transes no limite do delírio. Crentes proclamaram que na terra as suas culturas iriam crescer por vontade própria, seus vegetais seriam maiores do que os dos outros, e eles não iriam carecer mais de comida ou bebida. Além disso, proclamaram que "Deus estava vindo agora para libertá-los do cativeiro e para torná-los chefes dos brancos" e que iriam "voar para o céu", enquanto "aqueles que não acreditavam... seriam convertidos em pássaros e animais da floresta." Quando alguns dos crentes vieram das regiões selvagens e construíram uma aldeia e um templo em uma plantação de açúcar em Jaguaripe, na periferia sul da baía, índios, africanos e Mamelucos de todos os lados da baía foram batizados por sua líder feminina, conhecida como "Mãe de Deus". Do seu centro em Jaguaripe, o frenesi religioso se espalhou para outras paróquias ao longo da baía onde os crentes abraçaram a seita e criaram suas próprias congregações. Confrontado com uma crise de trabalho nas plantações de açúcar e uma crise de conversão nas missões, o governador da Bahia, os jesuítas, o bispo e o conselho da cidade de Salvador se uniram para destruir a seita.¹
Este episódio, que os estudiosos nomearam de "a Santidade de Jaguaripe," é um exemplo quase clássico de um movimento milenarista. Milenarismo tende a surgir entre os povos que vivem em um "amargo e doloroso presente" e que esperam por "um futuro radiante onde todo o mal será apagado".² Em tempos de desastres, crises de subsistência, guerra civil, colonialismo, a rápida expansão do capitalismo, ou privação relativa, as idéias milenaristas se espalham porque "velhos mitos sobre o significado da humanidade não encontram alterações de circunstâncias, pois eles já não são relevantes".³ Movimentos milenaristas criam uma nova mitologia para aqueles em desespero e dão esperança para um novo mundo onde o mal está erradicado, a opressão terminou, e os erros vingados. Os crentes estão dispostos a sacrificar-se para estar entre aqueles que serão salvos no próximo mundo, o mundo de paz, harmonia, igualdade e felicidade. Porque os crentes vêem o mundo como fundamentalmente mau, eles desejam intensamente que aqueles que causaram o mal devam pagar por seus pecados.4 Não raro, isso leva a conflitos profundos e potencialmente devastadores com as autoridades estabelecidas.5
A Santidade de Jaguaripe é clássico com exceção de um ponto crucial: a participação de escravos.6 Muitos dos que acreditavam no movimento no Brasil eram escravos, e as crenças da seita dirigia-se diretamente a condição de escravidão. Pode-se supor que a condição de escravidão faria um terreno fértil para a semeadura movimentos milenaristas, mas na verdade há muito poucos relatos históricos de tais movimentos entre os escravos. Este silêncio na historiografia merece um exame mais detalhado. Logicamente, parece que o milenarismo deveria ser uma resposta comum à escravidão. Mais de trinta anos atrás, Vittorio Lanternari escreveu que, no Caribe, "onde a população negra de ascendência Africana sofreu séculos de opressão nas mãos dos comerciantes de escravos europeus e americanos, as condições de vida prepararam o terreno para qualquer culto religioso que prometesse liberdade e independência para seus seguidores".[7] No entanto, a historiografia da escravidão revela poucas vezes quando os escravos adotaram o milenarismo para resolver sua situação. Eric Hobsbawm mostra como a rápida expansão do capitalismo moderno em sociedades camponesas, nos séculos XIX e XX freqüentemente criou o contexto para movimentos milenaristas,[8] no entanto, o comércio de escravos, que é citado por muitos estudiosos como a base para o desenvolvimento da economia atlântica e o qual afetou profundamente as sociedades africanas e americanas nativas desde o século XVI  até os séculos XIX, parece que raramente causou respostas similares entre os escravos.[9] O desastre é visto como um fator causador de movimentos milenaristas;[10] escravos certamente vivenciaram desastres e fome, sejam eles nas Américas, na África, ou no comércio de escravos transatlântico ou transcontinental, ainda não temos exemplos de desastres documentados que causaram movimentos milenaristas entre os escravos. A resistência milenarista à ordem colonial é um tema comum nos escritos acadêmicos, mas não, ao que parece, para os escravos nas sociedades coloniais da África e das Américas.[11] É este o silêncio na escrita histórica devido ao fato de que alguns desses movimentos realmente ocorreu? Ou movimentos milenaristas entre escravos surgiram, mas não deixaram nenhum rastro em fontes escritas? Existem fontes não escritas que os historiadores têm negligenciado ou falharam em ler todo o seu potencial?[12]
As primeiras cartas e crônicas do Brasil descrevem uma tradição messiânica, para muitos estudiosos é a chave para a compreensão da Santidade de Jaguaripe. Depois de residente no Brasil há apenas alguns meses, por exemplo, o líder da missão jesuíta no Brasil, Manuel da Nóbrega, escreveu que os índios "nada adoravam e nem conheciam a Deus" e só tinham a seguinte cerimônia entre si: de vez em quando, um "feiticeiro" (hechizero) aparecia nas aldeias e, projetando sua voz através de uma cabaça, pregava que não havia necessidade de trabalhar, que as culturas iriam crescer por conta própria, que as setas iriam caçar a caça, que o velho tornar-se-ia jovem, que os guerreiros iriam matar muitos de seus inimigos, e que as pessoas iriam comer muitos cativos. Após a pregação, os indígenas, especialmente as mulheres, começavam a tremer, se jogavam no chão e espumavam pela boca; o feiticeiro iria curá-los e a santidade (santidad) entraria neles.[15]
Em 1952, José Calasans escreveu a primeira história moderna da Santidade de Jaguaripe e deu a entender que ela pertencia ao contexto do aparecimento periódico entre os índios brasileiros de indivíduos conhecidos como caraíbas, que eram percebidos enquanto detentores de poderes sobrenaturais.[16] Posteriormente, sociólogos, antropólogos e historiadores recorreram ao trabalho de Curt Nimuendajú-Unkel, Alfred Métraux, Egon Schaden, e Pierre e Hélène Clastres sobre a religião tupi-guarani para entender o fenômeno dos caraíba e as migrações periódicas realizadas pelos Tupi Guarani em busca de uma "terra sem mal".[17] Apenas breves descrições da Santidade de Jaguaripe, no entanto, apareceu na literatura acadêmica,[18] até a monografia de Ronaldo Vainfas A heresia dos Índios que trouxe o movimento em foco mais nítido. Vainfas argumenta que a tradição caraíba de liderança messiânica, combinado com as migrações tupi-guarani que procuraram a "terra sem mal", assumiu uma nova forma na Santidade de Jaguaripe. Porque a seita foi influenciada pelo cristianismo, no entanto, ele vê seus rituais indígenas como menos "autêntico" do que os dos movimentos messiânicos anteriores. Vainfas caracteriza a Santidade de Jaguaripe como uma "idolatria insurgente", uma forma de resistência indígena ao colonialismo.[19]
Gostaria de sugerir uma leitura alternativa da Santidade de Jaguaripe: que era um movimento milenarista de escravos. De todos os estudiosos que escreveram sobre a Santidade de Jaguaripe, apenas Roger Bastide sugere uma possível ligação entre escravidão e milenarismo. Em uma breve referência à Santidade de Jaguaripe, em seu estudo maior sobre religiões africanas no Brasil, Bastide escreve: "Sociologicamente o culto pertence à categoria de messianismo, que é fortemente carregado de ressentimento – o ressentimento do escravo por seu mestre, do ressentimento indígena nativo por seu conquistador – e profeticamente anuncia a vingança definitiva da vítima contra os europeus".[20] Apesar de Bastide não ver o milenarismo como uma parte importante da religião africana no Brasil, argumentando que africano-brasileiros não iniciaram seus próprios movimentos milenaristas,[21] uma leitura cuidadosa da Santidade de Jaguaripe sugere que os escravos índios e africanos usaram as idéias mileniais para a construção de sua própria experiência religiosa. Ao chamar a Santidade de Jaguaripe de um movimento de escravos, eu não nego que ele foi influenciado pela tradição indígena. No entanto, defendo que o movimento foi uma nova criação, em resposta às novas situações radicalmente encontradas pelos escravos na sociedade colonial emergente.
PARA O HISTORIADOR QUE TENTA RECONSTRUIR os significados e experiências da Santidade de Jaguaripe, a visão pós-colonial de que "a linguagem é poder, porque as palavras constroem a realidade" leva à dúvidas incômodas quando confrontamos as fontes em mãos, considerando que todas foram escritas a partir da perspectiva das autoridades coloniais.[22] As fontes escritas pela Santidade de Jaguaripe consistem em uma carta jesuíta anual de 1585[23] (presumivelmente, existem outras fontes jesuítas ou existiram[24]) e processos da Inquisição Português. Os processos que descrevem a seita datam de 1591 e 1592, quando um inquisidor da visitação chegou na Bahia para estabelecer uma presença temporária do Santo Ofício da Inquisição.[25] Porque o inquisidor tinha ouvido muitos moradores de Salvador e do Recôncavo denunciarem aos portugueses e aos mamelucos de raça mista que toleraram e participaram nos rituais da seita, ele julgou seis daqueles então acusados.[26] É só por causa desses processos que os historiadores podem reconstruir a seita como um todo. No entanto, essas descrições chegam até nós na linguagem escrita, terminologias e os códigos da Inquisição. As denúncias, confissões e interrogatórios contidos nos processos nunca registram relatos na primeira pessoa, mas sim, mais remoto, estão escritos na terceira pessoa usada pelo notário. Além do fato de que as declarações de indivíduos foram transformadas pelo notário do tribunal inquisitorial, o historiador nunca pode saber como os indivíduos adaptaram suas confissões e denúncias para revelar ou esconder o que eles, de fato, sabiam ou não sabiam, ou para proteger ou para incriminar aqueles em torno deles. As descrições dos movimentos milenaristas inevitavelmente representam as opiniões e informações de estranhos insensíveis, e a Santidade de Jaguaripe não é exceção. Praticamente todas as denúncias foram feitas por pessoas que tinham pouca experiência direta com a seita, ao passo que as confissões daqueles que, de fato, acreditavam, cada um continha uma declaração negando essas crenças. O tribunal inquisitorial não registrou os depoimentos de todos os escravos africanos ou índios que participaram da seita. O historiador não pode ainda sequer listar os nomes dos crentes.
            Falhas como essas fontes são, elas, com efeito, produzem uma imagem do movimento, pelo menos, como fora visto pelos jesuítas provincianos em 1585 e registrado pelo Notário da Inquisição em 1591 e 1592. Segundo estas fontes, o movimento começou quando um índio conhecido simplesmente como Antonio começou a pregar nas regiões selvagens além de Jaguaripe, fora dos limites da Baía de Todos os Santos. Antonio cresceu em uma missão jesuíta na ilha de Tinharé e de lá fugiu para as regiões selvagens, onde ele "inventou" a seita.[27] Os rumores se espalharam rapidamente pela Baía de Todos os Santos que "Santa Maria Nossa Senhora, Mãe de Deus" havia aparecido entre os índios.[28] Índios, livres e escravos, fugiram das plantações do Portugueses para juntar-se à seita. Um plantador de açucar Português, Fernão Cabral de Tayde, propôs ao governador da Bahia que ele iria enviar sua mameluco veterano, sertanejo, intérprete e escravista indígena, Domingos Fernandes Nobre, para encontrar a seita no interior e trazê-lo para sua propriedade em Jaguaripe.[29] Nobre liderou uma tropa de vinte mamelucos e oitenta arqueiros indígenas no sertão. Lá eles encontraram Antonio e oitenta seguidores.[30] Os mamelucos, em seguida, participaram de rituais da seita. De acordo com Nobre, que só fingiu entusiasmo, porque seu motivo oculto era trazer a seita à propriedade de Cabral. Nobre fez enviar cerca de sessenta seguidores a plantação de Cabral, mas ele permaneceu nas regiões selvagens ostensivamente para convencer o resto, e Antonio, o "Papa", para irem para Jaguaripe, também. Cabral, aparentemente interessado em adquirir mais trabalhadores para a sua plantação, permitiu que aqueles que vieram das regiões selvagens construíssem uma vila e um templo.[31]  A mulher conhecida como "Mãe de Deus" liderou o templo em Jaguaripe, e logo sua fama se espalhou por outras plantações.[32] Não só os escravos fugiram de seus mestres e buscaram a seita em Jaguaripe, mas novas congregações surgiram em outras paróquias da Baía de Todos os Santos.[33] Diz-se que Cabral entrou no templo da seita em várias ocasiões e tirou o chapéu em sinal de respeito, assim como os outros, incluindo o sobrinho do governador.[34]
            O governador do Brasil, que residia em Salvador, ordenou a Cabral que desmantelasse a seita, mas Cabral paralizado, argumentando que para fazê-lo poria em perigo Nobre, que ainda estava no deserto negociando com Antonio. Recusando-se a esperar, o governador enviou tropas sob o comando do Português plantador de açúcar Bernaldimo Ribeiro da Gram à propriedade de Cabral. Lá, Cabral se recusou a ajudar Gram, dizendo que eles seriam todos mortos, mas Gram foi ao templo de qualquer maneira, onde, na língua indígena, ele persuadiu-os a render-se. Ele queimou o templo e levou o ídolo e os livros sagrados para o governador.[35]
            Enquanto isso, o governador mandou o plantador de açúcar Mameluco Álvaro Rodrigues e seu irmão Rodrigo Martins para o deserto para aprisionar o resto dos seguidores da seita. Rodrigues declarou que ele encontrou muitas congregações, todas as quais ele destruiu "pela força do brasão." Em algumas batalhas, ele destruiu a fé dos crentes por destacar os líderes que afirmaram que nenhuma espada ou cadeia poderia ferir-lhes e executá-los na frente de seus seguidores.[36]
            Nenhuma das confissões ou denúncias falavam claramente sobre o destino de Antonio. Na carta anual, porém, o Provinciano dos Jesuítas escreveu que alguns dos índios missionários, tendo sido vítimas de "a antiga serpente" e terem sucumbido ao "veneno" do feiticeiro (Antonio?), viram a luz. Pois, quando o feiticeiro estava passando, eles prenderam e bateram nele até que os jesuítas intervieram para salvar sua vida. Em seguida, o feiticeiro foi enviado ao governador, que colocou-o sob julgamento. O resultado, de acordo com os jesuítas, era que "aquele que pouco antes havia feito a si próprio Deus fora arrastado em público pelas aldeias a ser o passatempo e objeto de escárnio de todos".[37] Entregá-lo aos índios que haviam lhe apreendido, continua a carta jesuíta, o governador esperava que ele fosse morto, e os índios obrigados, a enforcar-lhe. Mas o próprio governador especificou em outro documento que o "papa" desapareceu e fugiu e não houve mais notícias. Outros líderes da seita, como a "Mãe de Deus", foram enviados para Portugal.[38]
O inquisidor de visitação respondeu a todas essas informações no que parece, ao leitor moderno, ser uma forma surpreendente. Ele destacou o plantador português açúcar de Cabral, que havia tolerado a seita em sua plantação, e mandou prendê-lo. Estabelecendo e, em seguida, pegando Cabral em uma armadilha de perjúrio, o inquisidor condenou Cabral a uma multa dura e o baniu do Brasil por dois anos. Nobre e os outros mamelucos que confessaram de ingressar nas cerimônias, a fim de levar a congregação a Jaguaripe receberam penitências espirituais para completar e foram ordenados nunca mais voltar para as regiões selvagens. Gonçalo Fernandes, que confessou acreditar na seita, quando era um adolescente, fora dada a este penitências espirituais, uma pequena multa e ordenou-lhe a não voltar para as regiões selvagens. Iria Alvares, a quem o inquisidor interrogou para levá-la a confessar que tinha forçado o filho aderir à seita, foi intimada a comparecer ao auto-de-fé em público da Inquisição, com uma vela acesa e instruída a reunir-se regularmente com o seu confessor.[39]
            Com estas medidas, o inquisidor lidou com as memórias remanescentes da Santidade de Jaguaripe. Do seu ponto de vista, o caso foi encerrado. Mas o historiador deve revisitar as fontes mais e mais para reconstituir o que a Santidade de Jaguaripe poderia ter significado para seus crentes. Essas fontes deixam muitas perguntas sem resposta. Mas elas revelam uma imagem convincente de uma comunidade apaixonada, composta principalmente de escravos, que se define em oposição à ordem colonial, usando um novo tipo de linguagem e ritual religioso.
QUANDO O MOVIMENTO MILENARISTA conhecido como Santidade surgiu, o Brasil ainda estava em um estágio inicial de evolução colonial. Embora a viagem de Pedro Álvares Cabral de Lisboa em 1500 resultasse na descoberta oficial do Brasil, a colonização sistemática, especialmente da região da Baía de Todos os Santos, não começaria até 1549. Naquele ano, o rei D. João III enviou um governador real para todo o Brasil para residir em Salvador, e autorizou a Companhia de Jesus que iniciasse a evangelização dos índios. Como a capital do Brasil e da residência dos Jesuítas, Salvador, assumiu uma nova importância como o local em que a autoridade colonial e evangelização cristã seriam notórias. Os jesuítas começaram a aprender as línguas indígenas para ajudar na conversão, enquanto o governador incentivou o desenvolvimento das plantações de açúcar, que o rei imaginou como o motor econômico do Brasil.[40] Uma vez que os plantadores de açúcar dependiam de índios para o trabalho e porque a escravidão indígena tornou-se rapidamente a norma, os jesuítas logo entraram em confronto com os colonos no tocante a escravidão indígena.[41] As epidemias na década de 1560 e 1570 dizimaram as missões jesuíticas e criou-se uma escassez de trabalho para os plantadores.
            Durante a década de 1580, a escravidão expandiu-se na Bahia, e os jesuítas iniciaram um novo ministério para os escravos. Esses dois fatores poderiam influenciar a Santidade de Jaguaripe. O declínio da população indígena era então, àquela altura, indiscutível. Um escritor jesuíta escreveu durante a década de 1580 que, enquanto os jesuítas (que estavam em número de setenta em seu collegio da Bahia em 1584)[42] certa vez que ministraram para 40.000 índios que viviam em quatorze missões, apenas três missões ainda permaneciam, com menos de 3.500 índios.[43] Mesmo com este declínio catastrófico, as pragas ainda não havia cessado. Na carta jesuíta anual de 1581, o chefe do campo missionário brasileiro, o Provincial dos Jesuítas José de Anchieta descreve uma praga devastadora da varíola e, em seguida, disenteria, na Bahia, que custou a vida de 9.000. Nas plantações, não só as usinas pararam, mas as raízes de mandioca, essenciais para a subsistência, não foram plantadas."Senhores e senhoras, e seus filhos, serviram aos seus escravos", escreveu ele, "mas nem isso foi suficiente para evitar que a maioria deles de morresse".[44] O número de escravos africanos começou a aumentar a medida em que os plantadores voltaram-se para novas fontes de trabalho. Certamente, escravos africanos já haviam estadado na Bahia antes de 1580, mas em pequenos números.[45] Anchieta escreveu em 1581 que "o tráfico de escravos da Guiné tem aumentado consideravelmente, e este ano temos a certeza de que mais de dois mil entraram somente nesta cidade [de Salvador]".[46] Plantadores também equiparam expedições em busca de novos escravos índios no interior brasileiro, enquanto os jesuítas enviaram linguistas treinados para convencer os índios a deixar as suas terras tribais em troca das missões em declínio.[47] Assim, na década de 1580, os novos escravos indígenas entraram Bahia a partir das regiões selvagens enquanto os novos escravos da África chegavam ao porto. Esses escravos índios e africanos que trabalhariam lado a lado nas plantações de açúcar da Baía de Todos os Santos.
            De acordo com um jesuíta, a população da Bahia na época aproximada da Santidade de Jaguaripe era de 25.500. Destes, 8.000 eram índios batizados que trabalharam para os portugueses como escravos ou trabalhadores livres no nome. Cerca de 2.500 índios viviam nas três aldeias das missão diretamente sob o controle dos jesuítas, enquanto 3.000 eram escravos africanos. Essas tribos indígenas fora do controle dos colonos e jesuítas portugueses não foram calculadas. (Veja a tabela).
            Na época da Santidade de Jaguaripe, muitas tribos indígenas conhecidas e desconhecidas ainda viviam nas selvas, fora do controle do Português. Um novo movimento religioso entre tais índios pode haver passado despercebido e fora do controle imediato dos jesuítas ou o governador. O que fez a Santidade de Jaguaripe aparentar ser uma ameaça aos jesuítas foi que ele apelou aos cristãos, isto é, para os índios e os africanos a quem já havia sido convertidos e batizados na fé. Para os jesuítas, era irrelevante se os participantes eram escravos ou livres, o que importava era que a sua participação ameaçava sua salvação cristã. Para os colonos e governador, o movimento se fez perigoso por seu apelo aos escravos e trabalhadores livres que fugiram das plantações, levando as usinas a um impasse. Plantadores se importavam menos com as heresias religiosas de seus escravos e trabalhadores livres (como vemos o comportamento do plantador de açúcar Fernão Cabral) e mais com o número de trabalhadores disponíveis para trabalhar nos seus campos e fábricas. Combinadas estas duas perspectivas revela-se que a Santidade de Jaguaripe foi um movimento de escravos batizados e trabalhadores livres. Não foi um movimento de índios independente dos plantadores e jesuítas, e não foi um movimento de índios intocados pela evangelização cristã.
            Como podemos saber exatamente quem participou da Santidade? Uma leitura cuidadosa dessas declarações que denunciam Cabral e Nobre (a maioria feita por colonos portugueses de nascimento), revela a percepção de que a seita apelou para os índios e os africanos sob o controle dos colonos portugueses. De facto a escravidão indígena era a norma na Bahia neste momento. Índios que viviam como escravos virtuais nas casas e trabalhavam nas plantações dos colonos portugueses não foram necessariamente escravizados legalmente. A coroa havia emitido ordens contraditórias sobre a escravidão indígena e os colonizadores portugueses interpretaram livremente os decretos reais. Embora os índios que viviam em suas plantações pudessem ser livres nominalmente, eles ainda viviam sob a autoridade do dono da plantação. O termo gentio, foi o termo mais frequentemente usado para descrever os adeptos da Santidade, especialmente nas denúncias mais curtas de Cabral e Nobre, e, como o termo, Brasis, menos comum referia-se genericamente índios.[48]
Quadro
População da Bahia na época do Movimento da Santidade, 1583
Número
Porcentagem
Português
12000
47
Índios cristãos
(Livre e escravo)
8000*
31
Os escravos africanos
3000
12
Indianos da missão
2500
10
Total
25500
100
Fonte: "Enformacion de la Provincia del Brasil parágrafo Padre Nuestro", Bahia, 13 de dezembro de 1583 (Brasiliensis Provincia et Maragnonensis, 15, 333-39, Archivum Romanum Societatis Iesu), também publicado pela Frederic Mauro, Le Bresil au XVII e siècle: Documentos Inédits relatifs à l'Atlantique portugais (Coimbra, 1961).
Notas:* No contexto do documento, estes índios cristãos estão trabalhando tanto nos engenhos de açúcar quanto nas casas de Portugueses.
Ɨ Os jesuítas tinha três missões: Espiritu Santo, San Juan e San Antonio.

Mas nas denúncias mais longas e mais detalhadas, os termos mais neutros, gentio e Brasis, são modificados pelo termo negro. Os termos negros da terranegros gentios e negros cristãos, que literalmente significavam "negros da terra", "gentios negros", ou "cristãos negros", transportou a implicação de servidão forçada, senão escravidão não real.[49] Às vezes os termos escravo ou negro foram usados ​​sem a modificação da terra, esses termos poderiam abranger escravos indígenas e africanos,[50]mas escravos de Guiné ou negros de Guiné (escravos ou negros da Guiné) explicitamente referia-se à africanos.[51]
            Nas denúncias, negro descrevia claramente um indivíduo possuído por ou sob o controle de outro. Belchior da Fonsequa, que viveu em Jaguaripe, no momento da Santidade, foi perguntado pelo o inquisidor sobre os nomes dos escravos cristãos na seita. Nem sempre conseguia se lembrar-se dos nomes dos escravos individualmente, mas, ele de fato lembrava os nomes de seus mestres. Ele viu negros cristãos de Gaspar Francisco, dez ou doze negros de Caterina Alvarez, dois ou três negros de Gonçalo Veloso da cidade, e Alexandre, um negro Cristão de Antonio Pires, bem como outros que fogiram de seus donos para se juntar à seita. O filho de Belchior, Antonio, lembrou-se de que todos os negros da terra de Fernão Cabral participaram da Santidade. Joam Bras foi até Cabral para pedir-lhe para devolver seus três negros, que se juntaram a seita. Em outras denúncias, o termo escravo descreve os adeptos. Assim, Álvaro Sanchez disse que a seita atraiu escravos cristãos. Bernaldimo Ribeiro da Gram, que destruiu a seita na propriedade de Cabral, especificou que Cabral permitiu que seus Escravos para adorar os ídolos da Santidade e que Escravos e indios cristãos (índios cristãos) fugiram de todas as regiões da Bahia para participar das cerimônias. O reitor do Colégio jesuíta, Fernão Cardim, foi mais preciso em sua terminologia: ele testemunhou que um grande número dos "escravos do sexo masculino e feminino, os índios desta terra, os cristãos ou gentios" ( Escravos e Escravas indios Desta terra cristãos ou gentios ) fugiram de seus donos para se juntar à seita em Jaguaripe. Da mesma forma, João da Rocha Vicente precisamente afirmou que o seu escravo, um índio cativo desta terra ( Seu escravo captivo indio desta terra ), pregou a mensagem da seita tão longe quanto as aldeias de missão da Capitania de Porto Seguro, no sul da Bahia.[52]
            Embora seja impossível reconstruir uma lista dos crentes da Santidade de Jaguaripe, é possível contar os indivíduos denunciados pelo nome para o inquisidor de visitação. Tal lista é pouco representativa da seita, mas mostra, com efeito, que aqueles que viviam como de facto ou de jure escravos predominavam nele. Nove Portugueses foram denunciados nominalmente por entrarem no templo em Jaguaripe e incentivarem a seita. A maioria, como Cabral, alegou não terem sido crentes. Vinte e oito mamelucos foram nomeados nas fontes, a grande maioria dos quais com Nobre, quando conheceu a seita no deserto. Quase todos os mamelucos com Nobre alegaram que participaram dos rituais com um motivo – para convencer a seita a se mudar para Jaguaripe. Outros mamelucos foram, no entanto, fiéis. É possível identificar positivamente apenas oito índios livres na seita; havia, sem dúvida, muito mais. Quinze proprietários de escravos diferentes são citados pelos nomes nos documentos como tendo os seus negros, escravos, ou gentios participado da seita. Os índios e os africanos sob o controle dos proprietários de escravos que podem ser contados estão em número de quarenta. Algumas denúncias simplesmente afirmam que um "número desconhecido" ou "todos" de um determinado proprietário de escravos negros se uniu à seita, assim quarenta é, obviamente, muito baixo. Sabemos, por exemplo, que sessenta participantes da seita viviam sozinhos em Jaguaripe, no entanto, apenas dez dos escravos de Cabral estão nomeados individualmente. Da mesma forma, um encontro secreto de dez negros foi relatado por Paulo Adorno, mas ele só pôde nomear três, Lucrecia, Ilena e Domingos.[53] Esta contagem dos documentos não medem definitivamente o tamanho da seita, ou até mesmo sua composição, mas sugere que a grande maioria dos membros da seita eram conhecidos como negros que viviam sob o controle dos colonos portugueses.
            Embora a grande maioria das denúncias da Santidade de Jaguaripe sugira que seus membros fossem índios sob o controle de colonos portugueses, uma das denúncias mais importantes descreveu explicitamente a participação de escravos africanos, a de Álvaro Rodrigues, o plantador de açucar mameluco que, com seu irmão, liderou a expedição as regiões selvagens, contra os últimos sobreviventes da seita. Esta denúncia nunca foi publicada, e alguns dos estudiosos que escreveram sobre a Santidade de Jaguaripe como um movimento indígena sabiam do seu conteúdo.[54] Rodrigues começa por dizer que nas selvas da Bahia entre os gentios (índios), surgiu a Santidade em que Jesus chamou alguns, outro Stª Maria, e uma outra São Paulo. Entre esses índios estavam muitos cristãos, alguns livres e alguns escravos que fugiram de seus senhores. Mais tarde, quando a seita se estabeleceu na propriedade de Cabral, muitos cristãos, tanto brasis (índio) e da guiné (africano) se juntaram a eles. Rodrigues descreve a propriedade de Cabral como onde "os Brasis cristãos [índios batizados] e muitos mamelucos, filhos de Brasis e de brancos, sendo todos cristãos acreditavam no abuso e deixaram a fé de Cristo, nosso Senhor, e os negros cristãos da guiné [escravos batizados da África] começaram a fazer o mesmo".[55] Uma outra denúncia, a de Maria Carvalha, um servo livre de Cabral de dezoito anos de idade, refere-se especificamente a um escravo Africano no movimento. Ela denunciou Petronilha, que ela descreveu como uma "escrava Africana batizada nascida nesta terra" (negra de Guiné creoula desta terra cristãa). De acordo com Carvalha, enquanto ela estava espanando uma pintura da Virgem, um dia, Petronilha bateu a imagem de Maria e disse que era inútil e feita de madeira, enquanto a dela, a imagem de pedra da Santidade, era melhor.[56]
            Embora repelidos os jesuítas podem ter, inadvertidamente, ajudado os seguidores da Santidade de Jaguaripe a desenvolver uma linguagem comum que muniu os escravos de culturas díspares de um vocabulário compartilhado. Embora seja uma percepção comum de que os escravos no Brasil, sejam índios ou africanos, não foram o foco dos missionários, os jesuítas, de fato, os via como parte de seu ministério.[64] Esta missão, por outro lado, aumentou rapidamente nos anos imediatamente anteriores ao surgimento da Santidade de Jaguaripe. Quando o jesuíta Cristóvão de Gouveia chegou ao Brasil em 1583, ele, como jesuíta Visitante, tinha a seu cargo a revisão de cada colégio e residência jesuítas e avaliar a sua missão. Na Bahia, ele ordenou que aos irmãos que visitassem as plantações e cuidassem das necessidades espirituais dos escravos. Fernão Cardim, o secretário do jesuíta visitante, descreveu o ministério da seguinte forma: "estamos em missão contínua para as usinas e fazendas dos Portugueses... [E]stas missões tem dado tantos benefícios que um padre que estave lá por 15 dias batizou 200 escravos, adultos e crianças, tanto da Guiné quanto desta terra, e [celebradou] até 100 casamentos ... e deu-lhes o conhecimento do criador e da salvação".[65] Em quatro meses, Gouveia afirmou, os jesuítas tinham batizado perto de 800 índios e escravos de Guiné, casado 500, e ouviu um grande número de confissões. De outros documentos escritos por Gouveia, sabemos que ele advertiu os jesuítas, não para batizar (exceto em extremis ) se os índios e os escravos africanos não soubessem as orações ou tivessem uma boa compreensão do cristianismo. A descrição detalhada que Gouveia enviou a Roma sobre como estas missões trabalhariam para as plantações sugere que os jesuítas já havia desenvolvido uma abordagem sistemática. Um padre, em quem a ordem tinha grande confiança, e um companheiro confiável, seria dada a responsabilidade de visitar cada plantação anualmente. Após a chegada, eles iriam fazer um censo de todos os escravos e indicar quem tinha sido batizado, quem era casado e quem tinha feito confissões, pois eles não deveriam sair até que todos os escravos tivessem recebido a ajuda e correção necessárias. Eles deveriam dizer missa na parte da manhã em dias santos, porque aqueles eram os dias em que os escravos e índios tinham folga, depois da missa, eles deveriam ensinar a doutrina antes de os escravos partissem para trabalhar em suas próprias roças. Eles deveriam incentivar a criação da Confraria de Nossa Senhora do Rosário. À noite, ou durante a refeição da noite, eles deveriam ensinar a doutrina aos índios e escravos usando o catecismo aprovado.[66]
            Os efeitos da missão jesuítica para índios e escravos africanos pode ser visto nas crenças religiosas e rituais da seita da Santidade de Jaguaripe. Considerações ao inquisidor descrevem rituais de batismo com água, a confissão dos pecados, oração, contas* de oração, e a nomeação de santos. Bras Dias confessou que a seita imitou a igreja cristã com suas cruzes e declarações que Cristo, que dá comida, era o senhor do mundo e filho da Virgem Maria, mas observou que, essas crenças continham "muitas imperfeições" e "insensatezes", uma vez que era "uma coisa de negros que conhecem pouco".[67] Na carta anual de 1585, o Provincial dos Jesuítas mostrava uma seita com um sumo sacerdote, "como nós ordenamos o Papa", bispos consagrados e sacerdotes, e as escolas para ensinar a crianças. Os jesuítas estavam particularmente preocupados com as ligações óbvias entre a Santidade de Jaguaripe e seu próprio trabalho missionário. O provincial escreveu que achou o "culto mais perigoso [do que as superstições anteriores] naquilo em que mais de próximo seguia os ritos e cerimônias cristãs, obviamente, de modo que a própria semelhança das leis e congruência dos costumes do Diabo poderia convencer as pessoas as quais não fossem as mais sábias de que os nossos costumes em nada diferem do costumes deles, e que se eles, no entanto, um tanto diferentes, seriam os nossos costumes que desviavam da verdade".[68] As crenças messiânicas e milenaristas da Santidade de Jaguaripe expressaram a esperança de escravos que tinham experimentado a fome, sobreviveram à pragas, atravessaram a floresta ou o Atlântico em grilhões, e trabalharam continuamente nos canaviais e usinas. O termo "milenario" pode ser definido livremente para descrever fenômenos, visíveis em todo o mundo, em praticamente todas as tradições religiosas, que evocam "qualquer concepção de uma idade perfeita por vir, ou de uma terra perfeita para ser tornar acessível".[69] Usado Nesse sentido, a tradição tupi-guarani de seguir  os caraíbas que prometeram uma era de ouro pode ser vista como milenarista. O testemunho de Álvaro Rodrigues de que os crentes estavam convencidos de que os cultivos iriam crescer por conta própria e que eles não careceriam de comida ou bebida parece seguir o padrão indígena. Mas o imaginário milenarista da seita da Santidade de Jaguaripe também foi influenciado especialmente por crenças que se originam na tradição judaico-cristã. O Livro de Daniel contém um dos paradigmas mais poderosos de transformação milenarista, que apela para aos santos de Deus para se levantarem e derrubarem o mal, poder demoníaco à solta no mundo.[70] Os primeiros cristãos transformaram a expectativa judaica do Messias e a idade milenarista na terra para o retorno do Messias e a inauguração de um reino celestial.[71] No livro do Apocalipse, o Messias retorna em um cavalo branco, liderando exércitos celestiais para fazer guerra contra a besta de dez chifres, o falso profeta, e depois cria uma nova Jerusalém, onde os fiéis vão viver com Deus.[72] Ele inaugura o "milênio", o reinado de mil anos de Cristo na terra, quando o diabo será mantido em cativeiro.[73]
            Foi certamente os jesuítas que apresentaram aos índios e os africanos às idéias milenaristas cristãs. De acordo com Carole Myscofski, os jesuítas projetaram um cristianismo milenarista no Brasil através de suas peças de teatro e catecismo. As peças de José de Anchieta, realizadas na década de 1580, dramatizaram o Apocalipse em termos reconhecíveis. Na trilogia Na Vila de Vitória, Anchieta retrata a Bahia como corrupta, governada pelo diabo, e em seus últimos dias. A redenção vem quando Santa Ursula e São Mauricio derrubam o mal e começam uma nova era.[74] Através da catequese jesuítica, escravos africanos e indígenas foram expostos à idéia de apocalipse, pelo poder transformador da redenção, e com a idéia do castigo eterno do mal. Uma parte fundamental do ensino jesuíta na Doutrina Cristã, o catecismo usado ​​em línguas indígenas e africanas, introduziram o conceito do Dia do Juízo. Ensinada em um simples diálogo de pergunta e resposta, a Doutrina Cristã delineou o cenário em linguagem simples. Os jesuítas ensinavam que Cristo retornará do céu em uma nuvem, ninguém, nem mesmo os animais, vão escapar, todos vão morrer e depois renascer, o bom será bonito e o mau feio. Cristo julgará todos e levará o bom para o céu, onde viverão para sempre, enquanto o mal irá para o fogo do inferno, onde sofrerão eternamente.[75]
            A aplicação dos ensinamentos milenaristas para a vida dos índios e africanos pode ser visto nas confissões daqueles que participaram da seita. De acordo com a mulher indígena livre Iria Alvarez, os líderes pregavam que "Deus nosso Senhor descerá do céu para a terra e que Deus iria mudar este mundo, e que, quando Deus vier aqui para a terra todos morreriam, e que depois que eles morressem, eles levantariam de novo".[76] Cristóvão Bulhõis confessou que quando ele e os outros Mamelucos, sob o comando de Nobre conheceram o "papa" nas selvas, eles foram orientados a "irem e lavarem-se", pois "um novo incêndio nasceria entre eles".[77] Gonçalo Fernandes confessou que eles entenderam que "Deus estava vindo agora para libertá-los do cativeiro em que eles estavam e para torná-los chefes dos brancos e que os brancos se tornariam seus escravos."[78]  Luisa Rodrigues confessou que acreditava que "Nossa Senhora e Nosso Senhor iriam voltar e andar aqui na terra".[79]
            Os jesuítas não eram a única fonte de crenças milenaristas e messiânicas judaico-cristã dos escravos. Os colonos portugueses da Bahia, entre os quais foram contados os cripto-judeus, cristãos-novos (descendentes de judeus convertidos), e os cristãos, possuíam uma tradição religiosa ricamente entrelaçada com crenças messiânicas e profecias milenaristas. Embora os líderes da igreja cristã condenassem escritos milenaristas e proféticos como heresia, no século IV, estes persistiram na religião popular dos cristãos em toda a Europa.[80] Na Península Ibérica, teologias milenaristas e crenças populares tornaram-se parte integrante do catolicismo.[81]
            O milenarismo cristão da Ibéria tinha raízes em crenças messiânicas das comunidades judaicas sefarditas da Espanha e Portugal. O fervor messiânico é uma característica proeminente da história judaica,[82] e nas comunidades sefarditas da Península Ibérica, os movimentos messiânicos irromperam na medida em que os judeus encontravam-se cada vez mais sob ataque do fervor das cruzadas do catolicismo. Entre os conversos (judeus que se converteram ao cristianismo em Espanha), os movimentos messiânicos apareceram, provocados pela intensa investigação de conversos pela Inquisição, expulsão dos judeus da Espanha e a conversão forçada dos judeus em Portugal.[83] As esperanças messiânicas surgiram repetidamente entre os cristãos-novos em Portugal: Isaac Abravanel previu a chegada do messias judeu em 1503; David Reubeni procurou ajuda para libertar a Terra Santa dos turcos em 1520, a fim de se preparar para o Messias judeu, e Luis Dias foi conhecido como o messias de Setutbal quando ele foi preso pela Inquisição em 1530.[84] O Português cristão-novo, o poeta Gonçalo Annes (mais conhecido por seu apelido, O Bandarra) escreveu poesias infundidas com temas apocalípticos e messiânicos. As trovas de Bandarra  descrevem a vinda de um grande rei e salvador, que iria transformar completamente o mundo. Escrito em algum momento antes de 1537, os versos circularam amplamente, e alcançaram a atenção da Inquisição, que interrogou Bandarra em 1545.[85]
            Esta cultura popular milenarista e messiânica na comunidade cristã-nova desenvolveu-se dentr doo sebastianismo, que apareceu após a trágica morte do Português D. Sebastião, em 1578. Sebastião foi amplamente considerado como o "desejado" príncipe descrito por Bandarra e outros que levaria Portugal a grandeza. Em vez disso, a curto reinado de Sebastião terminou em tragédia em uma expedição militar contra o Marrocos, que Sebastião organizou, culminando em sua morte em Alcaicer-Quibir, em 1578. Entre o devastado povo português, tomou corpo a crença de que Sebastião não morreu em Marrocos, mas, ao contrário, escapou e permaneceu na clandestinidade. Alguns acreditavam que Sebastião retornaria em glória e inauguraria seu reinado profetizado.[86]
            As denúncias e confissões ao inquisidor visitante na Bahia revelam que crenças religiosas messiânicas e milenaristas faziam parte da religião popular da Bahia. Muitos dos que denunciaram ao inquisidor eram cristãos-novos, incluindo um que supostamente participou dos rituais da Santidade de Jaguaripe.[87] Uma comerciante cristã-nova recém chegada denunciou seu companheiro na viagem marítima, Gregorio Nunes, como um cripto judeu que evitava orações a bordo do navio, virava as costas para a cruz, e recitava versos das Trovas de Bandarra a partir da memória.[88] Antes da missa, um dia, três homens discutiram o Anti-Cristo, como ele viria antes do dia do juízo final e faria um grande dano às pessoas boas.[89]
            Idéias milenaristas, profecias e figuras messiânicas, então, eram dificilmente distantes ou mesmo fantásticas no mundo da Bahia do fim do século XVI. Mas foi a apropriação das profecias milenaristas por parte dos escravos e sua aplicação à escravidão que fez a Santidade de Jaguaripe ameaçar os plantadores de açúcar e funcionários reais.
A SANTIDADE DE JAGUARIPE uniu indígenas e africanos negros, escravoscaptivos em uma comunidade. Ela criou uma nova religião que lhes validava em um mundo que não o fazia. Para alguns, um de seus primeiros atos foi rejeitar violentamente o mundo que os oprimia. De acordo com os jesuítas, ao passo que a "superstição" se espalhou junto aos índios que viviam entre os portugueses, eles queimaram as casas dos portugueses, destruiram as plantações de cana, arrasaram as usinas de açúcar até o chão, e mataram os seus senhores, em seguida, fugiram.[90] O governador da Bahia, Manoel Telles Barreto, também descreveu a Santidade como a causa de muita agitação na Bahia, porque a maioria dos índios, livres e escravos, fugiram para se juntar à seita, e no processo de plantações queimadas, os brancos mataram e maltrataram os irmãos jesuítas.[91] Álvaro Rodrigues explicitamente descreveu ao inquisidor como a seita desafiou violentamente a autoridade de proprietários de escravos: "se os senhores dos escravos proibissem seus escravos de seguir o culto, os escravos se levantaram contra seus senhores, eles feriram-lhes e mataram-lhes, roubaram e queimaram suas propriedades. Isto colocou esta terra nas mãos daqueles do culto. Eles criaram um tumulto e uma revolta geral contra os brancos e devastaram a todos"...[92] Outros se juntaram a Santidade secretamente e, depois de longos dias de trabalho nas casas e plantações dos portugueses, ou nos domingos e dias santos (quando as usinas deveriam estar inativas), eles se reuniram para realizar os rituais que lhes deram uma nova identidade.[93]
            Mais do que qualquer outro denunciante, Álvaro Rodrigues tentou explicar as crenças da Santidade de Jaguaripe ao inquisidor de visitação. Rodrigues era um mameluco e um senhor de engenho. Como Mameluco, ele entendia a cultura indiana melhor do que a maioria dos plantadores de açúcar, mas, sobretudo, como um plantador de açúcar, escravizador de indígenas, e proprietário de escravos que ele era. As crenças da Santidade de Jaguaripe, em sua opinião, necessitavam de um tipo de resposta diferente da que foi dada por Fernão Cabral. Para Rodrigues, até que a fé milenarista dos crentes fosse destruída, não haveria paz na Bahia. Ele disse ao inquisidor que, quando ele levou os líderes da seita presos, eles disseram que "iriam voar para o céu e que eles não tinham medo das espadas, nem das cadeias porque o ferro se tornaria cera e não os feriria".[94] Para quebrar o poder dos líderes, que alegavam que nenhuma espada poderia feri-lhes, ele teve que matá-los na frente de seus seguidores. Só então, "depois que eles [os líderes] morressem, quando os crentes vissem que o que eles diziam era falso" que ele teria controle sobre eles, pois ele declarou, "muitos morreram aos seus pés por medo de castigo e espanto, sem sinal de qualquer doença ".[95]
            Episódios subseqüentes de resistência escrava na Bahia continuariam a atormentar plantadores e funcionários reais. Poderia algum destes haver sido igualmente milenarista? A evidência em questão é ainda mais fragmentada, superficial e menos confiável. Mas esta evidência não revela que os índios e os africanos juntaram-se na ocasião para resistir à ordem colonial e que estas comunidades tinham características religiosas. Quando o rei Filipe I nomeou-se governador do Brasil em 1588, Francisco Giraldes recebeu um conjunto detalhado de instruções. Um dos problemas que estava a tratar foi a resistência escrava africana e indígena. O rei afirmou que "há mais de três mil índios... que têm causado muitos danos às propriedades dos meus vassalos e que têm atraído para o seu lado todos os escravos da Guiné fugitivos".[96] No início do século XVII, o termo Santidade apareceu em correspondência real como um descritor de índios fugitivo e escravos africanos que praticavam a idolatria. Escrevendo para um governador posterior do Brasil, Gaspar de Sousa, em 1613, o Rei Filipe II relatou ele entendeu que "em dois ou três lugares existem grupos de índios e escravos africanos que fugiram seus senhores e juntaram-se com os outros, e que eles viviam na idolatria, e que eles chamavam suas comunidades santidades".[97] Porque esses índios e escravos estavam roubando e matando, e seus números foram se multiplicando, o rei temia a perda de sua renda real. Ele estava especialmente preocupado com os índios que haviam se juntado ou que se aliaram com os negros em rebelião – ou seja, com os escravos africanos fugitivos. Curiosamente, ele sugeriu que o governador recorresse à Afonso Rodrigues, filho de Álvaro Rodrigues, para ajudá-lo. Em outra carta, mais tarde no mesmo ano, o rei se refere ao mesmo problema, nomeando Jaguaribe, quatorze léguas de Salvador na fronteira das regiões selvagens, como um lugar onde "houve muitas revoltas de índios, mortes de pessoas brancas e fugas dos escravos das plantações" e que "trinta léguas distante está uma grande aldeia de índios em fugidos [gentio], que eles chamam de Santidade ".[98]
            Funcionários portugueses usaram o termo Santidade de tal forma que parece referir-se às comunidades de escravos fugitivos.[99] Em 1610, o governador do Brasil escreveu ao rei que nas selvas estava uma Santidade de índios e negros de Guiné de mais de 20.000 almas, que ele pediu permissão para atacar e escravizar.[100] Em 1612, Diogo de Campos Moreno, um oficial Português nomeado para estudar o Brasil, usa mocambo, o termo usado mais tarde para denotar uma comunidade de escravos africanos fugidos e Santidade para descrever os males que assolam o Brasil. Moreno escreveu que a coroa perdeu rendas devido a proibição da escravidão indígena e por confiar os índios aos jesuítas. Ele atribuiu culposamente a aparição de "mocambos entre os negros, ou os acampamentos de fugitivos, que são chamadas santidades" e outros problemas em sua má aprendizagem da doutrina cristã de seus tutores.[101] Moreno lamentou o fato de que os índios, que seriam de grande utilidade para os colonizadores portugueses, estivessem, em vez disto, em aldeias sob o controle dos jesuítas, e não faziam o trabalho para o qual foram pagos. Quando os jesuítas tentava puni-los, ainda que levemente, "os índios imediatamente fugiam para a floresta, onde eles criavam... rituais e comportamentos abomináveis ​​e juntavam-se aos negros da Guiné fugidos, e a partir deste, mortes, roubos, escândalos, e violência como consequência, e por estas razões, não é possível viajar através da selva, nem para os assentamentos para aumentar o interior '".[102]
            O uso de Santidade nesta correspondência oficial é surpreendente, pois o termo tradicionalmente descria um estado religioso. Em latim, sanctitas significa santidade, santidade e pureza moral. Como vimos, em 1549, Manuel da Nóbrega usou santidad para descrever a única cerimônia religiosa que ele encontrou entre os índios – aqueles momentos em que um feiticeiro indígena pregava e prometia uma era de ouro, fazendo com que seus seguidores tremessem e espumassem pela boca, após o qual ele os curava e a santidade (santidad) entrava neles.[103] Mais de trinta anos depois, Fernão Cardim, secretário do jesuíta da Visitação Cristovão de Gouveia, usou santidade no sentido de Sua Santidade (Sua Santidade, como o papa católico) para descrever os assistentes ( feiticeiros ), que se levantaram entre os índios de tempos em tempos, conhecido como caraíbas. Seu uso de santidade tem um significado religioso. Ele descreve como um índio "de maus modos", promete que as enxadas irão trabalhar por conta própria e as cestas vão encher-se com comida. "Bêbados", os índios não conseguem cuidar de si mesmos ou até que suas colheitas. Morrendo de fome, o grupo fica menor e menor até Sua Santidade permanecer sozinho ou até matarem-no.[104]Em carta anual dos Jesuítas de 1585, escrita em latim, Sanctitas é usado para se referir a uma experiência religiosa – o estado de exaustão ou a loucura que os seguidores da Santidade de Jaguaripe alcançavam através de seus rituais: "Quando essas agitações são seguidas pelo silêncio de cansaço e, finalmente, eles são lavados com água e santificados [sanctus], e quem quer que tenha produzido os sinais mais horríveis é visto como o que atingiu maior santidade [Sanctitas].[105]
            Nas fontes da Inquisição, Santidade também tem um significado religioso. Ao longo das fontes, refere-se tanto para o nome da seita ou ao estado de êxtase religioso realizado pelos crentes. Aqueles que confessaram ou denunciaram usaram Santidade para nomear a seita, mas qualificaram o uso da palavra. Gonçalo Fernandes, por exemplo, afirmou que Santidade era o nome que os crentes deram a sua religião: ele se referiu a "seu abuso [abusão] e idolatria que eles chamavam de Santidade."[106] Fernandes também utilizou Santidade para se referir ao estado alcançado pelos crentes depois de beber o fumo sagrado, orando e falando em sua língua "inventada" ele declarou: "eles beberam a referida fumaça, até que caíam bêbados com ela, dizendo que com a fumaça o espírito da Santidade entrava neles".[107]
            O termo claramente tinha um significado religioso como ele foi utilizado pelos jesuítas e os moradores da Bahia na década de 1590. Se Santidade tinha um significado religioso, então, devemos nos perguntar se posteriormente se o termo fora utilizado por funcionários do governo e o rei para transmitir ou significar uma experiência religiosa, também. Se assim for, estes casos mostram exemplos adicionais de escravos de diferentes pátrias construindo um vocabulário religioso comum para criar uma nova religião que modificasse e reinterpretasse o cristianismo.
            Ronaldo Vainfas afirma que as santidades eram as "verdadeiras ancestrais" das comunidades de quilombos  no Brasil. As santidades, em sua opinião, eram comunidades de índios que fugiram da escravidão nas plantações dos portugueses e do catecismo nas missões dos jesuíticas. Pelo fato de os escravos africanos também participarem com os índios em rituais comuns e de guerra contra a sociedade colonial, os mestres de escravos temiam profundamente as santidades. Além disso, Vainfas afirma que especificamente a Santidade de Jaguaripe tornou-se uma precursora de uma forma indígena para a qual Palmares se tornaria, no século XVII. "Na santidade baiana", escreve ele, "haviam rebeldes africanos, assim como em Palmares deveria haver índios", ambos foram revoltas contra o regime escravista colonial.[108]
            Poderia Palmares, famoso quilombo do Brasil,[111] ter começado como um movimento milenarista? Os estudiosos que estudaram Palmares indicam que há pouco no registro histórico para sugerir que a comunidade fosse milenarista.[112] Na verdade, não há descrições conhecidas de testemunhas oculares de rituais messiânicas ou milenaristas em Palmares, ou para este assunto em qualquer outro quilombo em Brasil.[113] No entanto, a religião teve um papel importante em Palmares. Descrições de Palmares do século XVII revelam que as comunidades tinham igrejas e sacerdotes. Um documento a partir da década de 1640 descreve a religião de Palmares como "uma imitação da Portuguesa", o que sugere crenças sincréticas. O mesmo documento refere-se à existência de sacerdotes e ao fato de que o rei proibiu a feitiçaria.[114] Na década de 1670, uma das descrições mais detalhadas dos Palmares informou, "embora estes bárbaros tenham quase esquecido sua subjugação, eles não perderam completamente fidelidade à Igreja. Há uma capela [capela], para que eles se reúnam sempre que o tempo permita, e imagens [estátuas, como a de santos] para que eles dirijam sua adoração.[115]
ENCONTRAR PROVA ESCRITA DO MILENARISMO entre as comunidades de escravos fugidos é particularmente problemática, para eventos milenares pela sua própria natureza são passageiras e muitas vezes isoladas. Poucos escravos eram alfabetizados ou susceptíveis de produzir os tipos de registros escritos necessários para a análise histórica várias centenas de anos mais tarde. Na história judaica, Gershom Scholem observa que a maioria dos movimentos messiânicos se esgotou e que "para alguns cronistas contemporâneos ou escritores de letras nem mesmo um eco de muitos desses movimentos chegou até nós. Ocasionalmente tradições sobre tal surto que perdura na memória popular, mas depois de uma ou duas gerações tudo sé esqueceria".[116] Na ausência de descrições escritas de milenarismo entre os escravos, a maioria dos estudiosos têm desanimado a possibilidade de que ele existia, particularmente entre os escravos africanos. No entanto, poderosa resistência ao colonialismo milenarista pode ser encontrado na África, entre os povos do Golfo da Guiné e do Bantu e Ba-Kongo, da África central – regiões fortemente afetadas pelo comércio escravo.[117] Essa tradição pode ser vista, pelo menos, tão cedo quanto na primeira década do século XVIII, quando a líder profética Beatrice criou rituais que misturaram as crenças cristãs, africanas e indígenas, chamou seus seguidores para restaurar a capital tradicional de São Salvador, e desafiou a autoridade dos missionários capuchinhos.[118] No século XIX, a justaposição dos ensinamentos missionários contra o pano de fundo da estrutura do poder colonial criou um terreno fértil para movimentos messiânicos. Igrejas messiânicas foram mais prevalentes onde o evangelismo através de missionários fora extensa e onde a discriminação racial, instituída por leis coloniais, era intensa.[119]
            Em uma parte da diáspora africana, o milenarismo é uma parte reconhecida e documentada da religião de escravos: o sul dos Estados Unidos. No início deste século, W. E. B. Du Bois descreveu a religião Afro-Americana como milenarista em sua mistura de elementos pragmáticos e evasivos.[120] Seguindo os passos de Du Bois, vários estudiosos da religião dos escravos na América do Norte analisaram em detalhe considerável as características milenarista e messiânica da religião dos escravos.[121] Entre esses estudiosos, Lewis Baldwin argumenta que havia uma parte da religião de escravos que fomentou a rebelião. Escravos que resistiram à escravidão, ele escreve, "não só acreditavam na possibilidade de libertação de Deus no aqui e agora, mas em suas próprias ações procuraram tornar essa possibilidade uma realidade".[122]Algumas rebeliões de escravos tinham conotações milenaristas. As considerações da rebelião de Nat Turner preservam a mais clara evidência de escravos milenaristas. Eugene Genovese chama Turner de "profeta messiânico cristão", enquanto Lewis Baldwin refere-se aos seguidores de Turner como "escravos que tentaram cumprir a sua visão milenarista aqui na terra." Em sua "confissão", Turner falou de visões, revelações, milagres e sinais de Deus que o convenceram de que "o Salvador estava prestes a abandonar o jugo que havia suportado pelos pecados dos homens, e o grande dia do julgamento estava à mão".[123] Ele descreveu uma batalha apocalíptica no céu, entre o bem e o mal, brancos e negros: "Eu vi os espíritos brancos e espíritos negros engajados na batalha, e o sol foi escurecido, o trovão rolou nos céus, e sangue fluiu nos rios".[124] A persistência da esperança milenarista para a salvação entre os afro-americanos, os estudiosos argumentam, pode ser visto na literatura afro-americana,[125] bem como em novos movimentos religiosos, como o Nação do Islã.[126]
ATRAVÉS DA SANTIDADE DE JAGUARIPE, escravos na Bahia articularam resistência à sociedade colonial, então, sendo construída pelos colonos, funcionários da coroa, e os jesuítas. Eles se apropriaram do vocabulário cristão rudimentar ensinado a eles pelos jesuítas e usaram para criar uma nova experiência religiosa. Essa experiência, e sua linguagem comum, proveram os meios para a definição de uma nova identidade entre pessoas de países muito diferentes, que foram desumanizados pela escravidão e colonialismo. As crenças milenaristas da seita extraídas a partir de tradições Tupi-Guarani e judaico-cristã, criaram o contexto em que os pregadores identificaram o mal com proprietários de escravos brancos, que seriam punidos, quando Deus viesse para julgar. Esta visão moral permitiu que os escravos vissem o poder do amo como mal. Atraiu-se escravos para resistirem a seus senhores neste mundo e não sofrerem com a expectativa da salvação na próxima. Com a promessa de uma intervenção sobrenatural, os escravos desafiaram o controle físico que proprietários de escravos usaram ​​para mantê-los escravos. Depois de libertos, os escravos criaram uma nova comunidade em que as regras vigentes eram muito diferentes. Esta nova comunidade enfatizou o poder da transformação espiritual através de rituais de limpeza, renomeção, dança, e "beber o fumo sagrado" do tabaco. Os iniciados se tornavam santos e participavam ativamente das cerimônias religiosas. Tão convincente foi esta visão de uma nova, espiritualmente viva, comunidade que desafiou o próprio fundamento do colonialismo Português.
A Santidade de Jaguaripe apareceu no início do processo de formação colonial no Brasil. Antes de sociedades coloniais serem totalmente construídas pela coroa e igreja, havia aberturas – momentos de confusão, divisão, ou incerteza – nas quais poderiam ter sido tomadas diferentes direções. A Santidade de Jaguaripe ocorreu em tal momento. A fé milenarista dos seguidores na invencibilidade de seus líderes provou ser ilusória, pelo fato de os líderes da seita terem sido feridos por espadas e contido por correntes. A busca pela independência foi interrompida pelas autoridades coloniais. Mas os atos subsequentes de resistência escrava e a persistência de um catolicismo popular milenarista no nordeste brasileiro sugerem que o desejo para o tipo de comunidade que a Santidade de Jaguaripe tentou criar não morreu. Se outros movimentos milenaristas de escravos existiram no Brasil e se outras aberturas no início da construção de outras colônias americanas permitiram movimentos milenaristas multi-étnicos sincréticas de escravos emergirem são perguntas que convidam mais pesquisa histórica.

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Alida C. Metcalf é professora de história na Universidade de Trinity. Ela recebeu seu BA da Smith College em 1976 e seu doutorado em 1983 pela Universidade do Texas em Austin, onde estudou com Richard Graham. Um especialista em história do Brasil, ela é autora de Family and Frontier in Colonial Brazil: Santana de Parnaiba, 1580-1822 (1992), que foi agraciado com o Harvey Johnson Book Award em 1993 e menção honrosa para o Prêmio Bolton em 1994. A pesquisa atual de Metcalf foca nas intermediações entre jesuítas e mamelucos no Brasil do século XVI.




* A autora deseja agradecer Drew Weston e Dorian Miller pela assistência na pesquisa, aos participantes do Colóquio Internacional Brasil: Colonização e Escravidão (Lisboa, 1996) pelos comentários sobre a primeira versão apresentada deste artigo, aos colegas de Faculdade no Simpósio Dean's Faculty na Universidade de Trinity por suas muitas sugestões, Sandra Lauderdale Graham e John McCusker por suas leituras atentas do artigo, Ronaldo Vainfas por responder às inúmeras perguntas, e Robert Rowland por permitir a consulta do seu índice inédito dos julgamentos da Inquisição de Lisboa do século XVI.
¹ Esta descrição da Santidade de Jaguaripe é traçada a partir da denúncia de Álvaro Rodrigues no julgamento de Domingos Fernandes Nobre, Inquisição de Lisboa, à, IL, 10,776, Arquivo Nacional da Torre do Tombo (Lisboa), à, a ANTT; e a confissão de Gonçalo Fernandes, em seu julgamento, IL 17762, ANTT. Pode ter havido duas congregações frouxamente ligadas (ou recém-separadas) nas regiões selvagens; localizar exatamente onde elas estavam é difícil. As referências são a Serra do Rios (SIC) Grande, a Serra das Palmeiras, um lugar conhecido como palmeiras compridas (palmeiras), um lugar conhecido na língua indígena como rioguasu, que o informante traduziu como "grande frio". José Calasans acredita que possa ter sido na Serra do Orobo; ver Fernão Cabral de Ataíde e a Santidade de Jaguaripe (Bahia, 1952), 11-12.
² Vittorio Lanternari, As religiões do Oprimido: Um Estudo de cultos messiânicos modernos, Lisa Sergio, trans. Nova Iorque, 1963), xii.
³ Ted Daniels, Millennialism: An International Bibliography (New York, 1992), XXV.
4 O sacrifício pode assumir a forma de se mudar para uma nova cidade santa, a partilha de bens de uma pessoa, falha ao plantar as culturas necessárias para a sobrevivência, ou passivamente retirar-se do mundo para esperar o amanhecer de uma nova era. A retribuição pode ser violenta ou não violenta, mas os crentes esperam um agente sobre-humano para derrotar o mal à solta no mundo, ver G.W. Trompf, " Introduction ", em Trompf, ed,. Cargo Cults and Millenarian Movements: Transoceanic Comparisons of New Religious Movements (Berlin, 1990), 7.
5 Embora os movimentos milenaristas sejam religiosos no tom, eles invariavelmente se tornam políticos e, portanto, o conflito se agrava quando seitas desafiam o direito e a autenticidade das autoridades políticas existentes. Daniels, Millennialism, xxi-xxiv. Existem inúmeros exemplos históricos deste conflito, por exemplo, que entre os Sioux e o governo federal, documentado por James Mooney, The Ghost-Dance Religion and the Sioux Outbreak of 1890 (Lincoln, Nebraska, 1991), a campanha de 1896-1897 do governo brasileiro contra a liderança do movimento milenarista por Antonio Conselheiro em Canudos, epicamente descrita por Euclides da Cunha, Rebellion in the Backlands, Samuel Putnam, trans. (Chicago, 1944), ou o conflito mais recente entre os agentes federais e o braço Davidianiano em Waco, Texas, em 1993, descrito por Philip Lamy, Millennium Rage: Survivalists, White Supremacists, and the Doomsday Prophecy (New York, 1996), 159-91.
6 A extensa bibliografia compilada por Ted Daniels, que anota 787 estudos e listas de 3,762 títulos, não aborda a escravidão como uma categoria de análise. No índice, "escravo" traz apenas dois títulos, ver Daniels, Millennialism. A exceção é a presença de temas estudados milenaristas das religiões de escravos do sul dos EUA, veja abaixo.
[7] Lanternari, Religiões do Oprimido, 158. Além da Jamaica, que abriga os rastafáris, cuja religião tem conotações milenaristas, e o Sul dos EUA (veja abaixo), não há indicação de que uma possível associação entre a escravidão e o milenarismo tenha vindo à tona na escrita histórica.
[8] Como articulada em E. J. Hobsbawm, Rebeldes primitivos: estudos em formas arcaicas dos movimentos sociais nos séculos 19 e 20 (New York, 1959), 57-92, a chegada do capitalismo moderno em uma sociedade camponesa tradicional traz efeitos cataclísmicos como propriedades da igreja são secularizadas, demarcação de terras, e os direitos consuetudinários tirado. AS remotas vilas italianas e espanholas de Hobsbawm encontram paralelos em outros lugares, quando as velhas formas não funcionam mais e a velha compreensão do significado da vida não consegue explicar o presente. Por exemplo, a rebelião do Contestado do Brasil (1912-1916) é caracterizada como uma revolta camponesa contra a invasão do capitalismo. Relações tradicionais patrão-cliente romperam-se ao passo que alguns membros da elite local colaboraram com a capitalização da região, uma vez isolados do sul do Brasil, em detrimento dos camponeses. O movimento milenarista prometia recriar um passado idealizado pelos os camponeses cujas vidas foram interrompidas e se agravou com a chegada da estrada de ferro, empresas madeireiras, e a perda de direitos à terra tradicionais; ver Todd Diacon, Millenarian Vision, Capitalist Reality: Brazil's Contestado Rebellion, 1912-1916 (Durham, N.C., 1991).
[9] Ver Barbara L. Solow, ed,. Slavery and the Rise of the Atlantic System (Cambridge, Massachussets, 1991); Joseph E. Inikori e Stanley L. Engerman, eds,. The Atlantic Slave Trade: Effects on Economies, Societies, and Peoples in Africa, the Americas, and Europe (Durham, NC, 1992), e John K. Thornton, Africa and Africans in the Making of the Atlantic World, 1400-1680 (Cambridge, 1992).
[10] Michael Barkun, Disaster and the  Millennium (New Haven, Connecticut, 1974).
[11] Michael Adas, Prophets of Rebellion: Millenarian Protest Movements against the European Colonial Order (Chapel Hill, NC, 1979), utiliza uma abordagem comparativa para investigar movimentos milenaristas, provocados pelo deslocamento das elites locais, que procuravam reviver a tradição e expulsar os estrangeiros.
[12] Ver Michel-Rolph Trouillot, Silencing the Past: Power and the Production of History (Boston, 1995), 26-30, sobre os quatro momentos onde os silêncios entram na produção histórica.
[13] A resistência escrava é de grande interesse para a história brasileira, devido à importância da escravidão no desenvolvimento brasileiro, mas essa literatura nunca explorou se a resistência escrava poderia ter tomado formas milenares. Veja, por exemplo, Maria Januária Vilela Santos, Balaiada e a Insurreição de Escravos no Maranhão (São Paulo, 1983); Clóvis Moura, Rebeliões da senzala: quilombos, insurreições, guerrilhas, 3d edn. (São Paulo, 1981); Moura, Quilombos: Resistência ao escravismo (São Paulo, 1987); Waldemar de Almeida Barbosa, Negros e quilombos em Minas Gerais (Belo Horizonte, 1972); Vicente Salles, O negro no Pará: Sob o regime da Escravidão (Rio de Janeiro, 1971); Julio José Chiavenato, O negro no Brasil: Da senzala a Guerra do Paraguai (São Paulo, 1980); Lana Lage da Gama Lima, Rebeldia negra e abolicionismo (Rio de Janeiro, 1981); João José Reis e Eduardo Silva, Negociação e Conflito: A Resistência Negra no Brasil escravista (São Paulo, 1989); Pedro Tomás Pedreira, Os quilombos brasileiros (Salvador, 1973), e Maria Amélia Freitas Mendes de Oliveira, A Balaiada não Piauí (Teresina, 1985). Stuart B. Schwartz revisão de literatura sobre a resistência dos escravos, escravos, camponeses e rebeldes: Reconsiderando escravidão brasileira (Chicago, 1992), revela igualmente nenhuma discussão sobre o milenarismo entre os escravos. Mesmo o conhecimento mais recente não contém nenhuma análise do milenarismo, veja João José Reis e Flávio dos Santos Gomes, Liberdade por um fio: História dos quilombos no Brasil (São Paulo, 1996). Alguns estudiosos consideram a possibilidade de milenarismo nos 1.835 malê (muçulmano) revoltosos na Bahia, ver Howard Prince, "Slave Rebellion in Bahia, 1807-1835" (Tese de doutoramento, Columbia University, 1972), e Viania Alvim, "Movimentos proféticos, pré-politicos e contra-culturais dos negros islamizados na Bahia do Século XIX: A Revolta dos Malês". (Tese de Mestrado, Universidade Federal da Bahia, 1975). João José Reis rejeita esta abordagem, afirmando que milenaristas destroem o mundo e esperam pela reconstrução divina, enquanto os malês queriam reconstruir o mundo com suas próprias mãos. Veja "Um Balanço dos Estudos sobre as Revoltas Escravas da Bahia", in: Escravidão e Invenção da Liberdade: Estudos sobre o negro no Brasil., Reis, ed ( São Paulo, 1988), 119. Em seu excelente estudo da revolta, rebelião de escravos no Brasil: A Revolta muçulmana de 1835 na Bahia, Arthur Brakel, trans. (Baltimore, 1993), no entanto, Reis, inadvertidamente, descreve implicações milenaristas para a revolta. A rebelião foi planejada para coincidir com o Ramadã, a "noite do destino"; esta celebração "era para ser o primeiro ato de uma nova era" (p. 119, grifo meu). Os rebeldes acreditavam que "os sérios defensores dos, e, participantes da sociedade escravista branca estavam do lado do mal, ao passo que os apocalípticos militantes islâmicos estavam do lado do bem, e estavam felizes porque estavam trabalhando para uma transformação apenas do mundo" (p. 120, grifo meu). Reis descreve como os rebeldes usavam amuletos inscritos com textos religiosos, que eles acreditavam que iria protegê-los na briga: ".. A vitória vem de Allah. A vitória está perto. Boas novas para todos os crentes", prometia o texto milenarista  em um amuleto confiscado pelo polícia", escreve Reis (p. 120, grifo meu). É inteiramente possível que a revolta Malê tenha influências milenaristas, dado que o Islã tem a sua própria tradição do milenarismo, que gira em torno da vinda de um salvador, ou Mahdi, que vai enviar os crentes para uma nova era, um tempo de justiça universal e bem-estar, antes do final do mundo. Veja Said Amir Arjomand ""Islamic Apocalypticism in the Classical Period", na The Encyclopedia of Apocalypticism, Bernard McGinn, John J. Collins, e Stephen J. Stein, eds. (New York, 1999), 2: 238-83.
[14] Ver, por exemplo, como os críticos descrevem o processo de criação de uma literatura pós-colonial em Bill Ashcroft, Gareth Griffiths e Helen Tiffin, The Empire Writes Back: Theory and Practice in Post-Colonial Literatures (London, 1989), 195.
[15] Informação das terras do Brasil do P. Manuel da Nóbrega, Bahia, agosto de 1549, em Monumenta Historica Societatis Iesu, Monumenta Brasiliae (Roma, 1956), 1: 150-52.
[16] Calasans, Fernão Cabral de Ataíde, 5-9.
[17] Ver Curt Nimuendajú-Unkel, Los mitos de creación y de destrucción del mundo como fundamentos de la religion de los Apapokuva-Guaraní, Juergen Riester G., ed. (Lima, 1978), Alfred Métraux, "Migrações historiques des Tupi-Guarani," Journal de la Société des Américanistes de Paris 19 (1931): 1-47; Métraux, La religion des Tupinamba et ses rapports avec celle des autres tribus Tupi-Guarani (Paris, 1928), 201-52; Métraux, ""Messiahs of South America",Interamerican Quarterly 3, não. 2 (1941): 53-60; Egon Schaden, Aculturação e messianismo entre índios brasileiros (São Paulo, 1972), e Helene Clastres, The Land-without-Evil: Tupi-Guarani Prophetism, Jacqueline Grenez Brovender, trans. (Urbana, Illinois, 1995). Dentro da literatura, há divergências sobre se os movimentos proféticos existiam antes da colonização ou surgiram como resultado disso, ver Carlos Fausto "Fragmentos de história e cultura Tupinambá: Da etnologia como instrumento crítico de conhecimento etno-histórico", em Manuela Carneiro da Cunha, ed., História dos Índios no Brasil (São Paulo, 1992), 385-87.
[18] Maria Isaura Pereira de Queiroz coloca-o dentro de uma tipologia dos movimentos messiânicos primitivos do Brasil in: O messianismo no Brasil e no Mundo (São Paulo, 1965), 146-48, enquanto Rene Ribeiro o vê como parte da pré-conquista e dos movimentos coloniais em "movimentos messiânicos brasileiros", in: Sylvia L. Thrupp, ed,. Sonhos Millenial em Ação: Estudos em Movimentos Religiosos Revolucionárias (New York, 1970), 57. Duas descrições bem pesquisadas ​​do movimento foram publicadas por Sonia Siqueira, "A elaboração da espiritualidade do Brasil colônia: O Problema do sincretismo", Anais do Museu Paulista 36 (1975): 211-28, e Stuart B. Schwartz, Sugar Plantations in the Formation of Brazilian Society, Bahia, 1550-1835 (Cambridge, 1985), 47-50.
[19] Ronaldo Vainfas, A heresia dos Índios: Catolicismo e rebeldia no Brasil colonial. (São Paulo, 1995), 64-69 Vainfas também depende da cuidadosa situação de Schwartz do movimento como parte de um fenômeno maior de resistência indígena na mais ampla história econômica da escravidão indígena e o crescimento de plantações de açúcar na Bahia (ver Sugar Plantations, 47-50).
[20] Roger Bastide, The African Religions of Brazil: Toward a Sociology of the Interpenetration of Civilizations, Helen Sebba, trans. (Baltimore, 1978), 173-74. Bastide vê a seita como um exemplo de messianismo indígena e como uma manifestação precoce de catimbó - uma religião popular indígena em que os afrobrasileiros participaram, mas não lideravam.
[21] Bastide argumentou que um messianismo distintamente negro nunca surgiu no Brasil porque a religião Africana sobreviveu em estado puro lá, o que manteve o "negro em sintonia com a natureza, não [para] um futuro problemático", e porque a sociedade brasileira "não tinha uma linha de cor e, portanto, nenhum grupo pária". African Religions of Brazil, 362-63. Embora partes desta afirmação soem vazias hoje, a influência de Bastide sobre a escrita da história da escravidão no Brasil fez com que muitos estudiosos a aceitassem sua visão de que a escravidão e o milenarismo não se misturam. Por exemplo, Queiroz em O messianismo no Brasil, 299-300, segue Bastide em sua análise dos negros no Brasil. Rene Ribeiro é um dos poucos a questionar este pressuposto. Em "movimentos messiânicos no Brasil", afirma que "Bastide era incapaz de explicar por que o negro brasileiro, enquanto relegado para o degrau mais baixo da escala social e sujeito às frustrações mais graves, nunca recorreram a movimentos messiânicos". Luso Revista Brasileira 29 (1992): 76.
[22] Ashcroft, Griffiths e Tiffin, Empire Writes Back, 89.
[23] Carta Ânual jesuíta de 1585, Annuae Litterae Societatis Iesu, Anni MDLXXXV (Roma, 1587), 129-41. Agradeço a Ronaldo Vainfas, Sandra Lauderdale Graham, e Richard Graham por localizarem e copiarem a carta, e Colin Wells por traduzi-la do texto latino.
[24] O historiador jesuíta Pierre du Jarric escreveu sobre a Santidade de Jaguaripe: R.P. Petri Iarrici, Thesaurus Rerum Indicarum (Coloniae Agrippinae [Colônia], 1615), 374-78, e Histoire des choses mais memorables advenues tout en Indes Orientales que autres pais de la decouverte des Portugais, 3 vols. (Bordeaux, 1608-1610), 2: 319-23, o que sugere que ele possa ter tido acesso a outras fontes. O grande historiador jesuíta do Brasil, Serafim Leite, S. I., observa, contudo, apenas a carta Ânual de 1585, ver História da Companhia de Jesus no Brasil (Rio de Janeiro, 1938), 2: 22-24.
[25] Os livros de denúncias e confissões foram publicadas pela primeira vez como Primeira Visitação do Santo Ofício as partes do Brasil pelo Licenciado Heitor Furtado de Mendonça: Confissões da Bahia 1591-1592 (Rio de Janeiro, 1935), e Primeira Visitação do Santo Oficio as partes do Brasil Pelo Licenciado Heitor Furtado de Mendonça: Denunciações da Bahia 1591-1593 (São Paulo, 1925). Ronaldo Vainfas produziu uma nova edição das confissões da primeira visita Inquisidorial, ver Santo Ofício da Inquisição de Lisboa, Confissões da Bahia (São Paulo, 1997). Os registros completos dos julgamentos daqueles julgados pela participação na seita são apenas encontradas na coleção de Inquisição de Lisboa da ANTT.
[26] Os seis ensaios são Domingos Fernandes Nobre, IL 10,776, ANTT, Fernão Cabral de Tayde, IL 17,065, ANTT, Gonçalo Fernandes, IL 17762, ANTT; Iria Alvarez, IL 1,335, ANTT, Cristovão de Bulhõis IL 7,950, a ANTT; e Pantalião Ribeiro, IL 11,036, ANTT. O julgamento de Marcos Tavares, IL 11,080, ANTT, faz referência à sua crença na Santidade, assim como o julgamento incompleto de Heitor Antunes, IL 4,309, ANTT.
[27] O nome indígena de Antonio foi Tamanduare de acordo com Paulos Dias, que também disse que ele tinha "ouvido falar" que Antonio "costumava ser dos jesuítas." Veja sua confissão no julgamento de Domingos Fernandes Nobre, IL 10,776, ANTT. Bras Diaz afirmou que Antonio tinha cresceu nas "missões" dos jesuítas e que ele tinha inventado a seita, veja a sua confissão em Confissões da Bahia, 159. A ilha de Tinharé é exatamente ao sul de Jaguaripe, na Capitania de Ilhéus. Os jesuítas tinham duas missões na ilha, sendo que ambas foram fundadas em 1561, a pedido de um chefe indígena da região que tinha sido batizado, veja Antonio Blasquez para Diogo Lainez, 01 de setembro de 1561, Monumenta Brasiliae, 3: 424 -27. Na sua fundação, as missões tinham 6.000 moradores. No entanto, as missões foram de curta duração, devido à praga severa e fome que estourou em 1563-1564. A vívida descrição do terror de que a peste, que aparentemente chegou em um navio que desembarcou em Ilhéus, é contada em Leonardo do Vale de Gonçalo Vaz de Melo, 12, Maio 1563, Monumenta Brasiliae, 4: 9-22. De acordo com Serafim Leite, os índios fugiram das duas aldeias de missão após a praga; História da Companhia de Jesus, 2: 58.
[28] Exame cruzado de Cristovão de Bulhõis em seu julgamento, IL 7,950, ANTT, confissão de Luisa Rodriguez, Confissões da Bahia, 206.
[29] Ver o julgamento de Fernão Cabral, especialmente a carta de Manoel Telles Barreto, IL 17065, ANTT, bem como o julgamento de Domingos Fernandes Nobre, IL 10,776, ANTT. Nobre, mais conhecido por seu apelido indiano "Tomacauna," é um exemplo fascinante de uma raça mista intermediário. Porque ele era capaz de negociar entre os mundos índio e português, ele e outros como ele eram aliados inestimáveis ​​para os primeiros colonos portugueses Veja Alida C. Metcalf, "Intermediarios no mundo portugues: Lancados, pombeiros e mamelucos do seculo XVI," Sociedade Brasileira de Pesquisa Histórica 13 (1997): 3-13.
[30] Ver os julgamentos de Domingos Fernandes Nobre, IL 10,776, ANTT, Cristovão de Bulhõis, IL 7,950, ANTIT e Pantalião Ribeiro, IL 11,036, ANTT.
[31] A explicação mais óbvia para o comportamento de Cabral era de que ele buscou obter trabalho para a sua plantação. Seu parente, por exemplo, afirmou que, através de sua iniciativa, ele trouxe os índios das selvas, o que sugere que Cabral pagou pela expedição da mesma forma que outros plantadores pagavam por expedições para obter índios das selvas. Veja denúncia de Francisco d'Abreu, em Denunciações da Bahia, 315-16. Quando o Inquisidor da visitação perguntou a Domingos de Oliveira por que Cabral se comportou como ele se comportou, Oliveira respondeu que era para "adquirir os índios"; Denunciações da Bahia, 266. Domingos de Almeida afirmou que "foi dito" que Cabral autorizou a Santidade de modo a adquirir muitos escravos; Denunciações da Bahia, 251.
[32] Francisco d'Abreu, Denunciações da Bahia, 315-16; Antonio da Fonsequa, Denunciações da Bahia, 346-47; Domingos de Oliveira, Denunciações da Bahia, 264-65; Bernaldimo Ribeiro da Gram, Denunciações da Bahia, 381 -82; Belchior da Fonsequa, Denunciações da Bahia, 276-78, e outros referem-se ao papel de uma mulher conhecida como "Mãe de Deus" ou "Santa Maria" na propriedade de Cabral.
[33] Gonçalo Fernandes afirmou em sua confissão de que a fama da seita foi tão grande em toda a Capitania da Bahia que todos os índios, tanto escravos e livres, ou fugiram de seus senhores para se juntar à seita em Jaguaripe ou adotaram crenças da seita e seguiram seus rituais onde eles estavam, ver o seu julgamento, IL 17,762, ANTT. Maria Antunes descreveu uma mulher mameluca em Matoim que se juntou a seus escravos e fez as cerimônias com eles, Denunciações da Bahia, 411.
[34] Julgamento de Fernão Cabral, IL 17,065, ANTT. A confissão de Cristovão de Bulhõis, IL 7,950, ANTT, afirma que o sobrinho do governador também tinha entrado no templo e reverenciado o ídolo.
[35] Francisco d'Abreu, Denunciações da Bahia, 315-16; Bernaldimo Ribeiro da Gram, Denunciações da Bahia, 381-82;. Manoel Telles Barreto para Bernaldimo Ribeiro da Gram no julgamento de Fernão Cabral. Cabral, no entanto, declarou em sua confissão de que ele ordenou que a seita se desfizesse e queimou o templo. Ele ainda, mais adiante, afirma que entregou ao governador a "Mãe de Deus", o marido dela e todos os escravos a quem ele havia ordenado serem trouzidos desde as regiões selvagens até sua propriedade; veja julgamento de Fernão Cabral, IL 17,065, ANTT.
[36] Ver a certidão de Manoel Telles Barreto e as denúncias de Álvaro Rodrigues e Diogo Dias no julgamento de Fernão Cabral, IL 17,065, ANTT; Vainfas, A heresia dos Índios, 98-99.
[37] Carta Ânual jesuíta de 1585, Annuae Litterae.
[38] Cabral alegou que ele deu ao ídolo, o líder da seita ("Mãe de Deus"), seu marido, e os escravos que os seguiram com o governador, IL 17,065, ANTT. Francisco d'Abreu afirmou que os líderes foram enviados para Portugal; Denunciações da Bahia, 316; Manoel Telles Barreto afirmou que ele enviou a "Mai de Deus" (Mãe de Deus) e seu marido para Portugal, mas que o "papa" tinha desaparecido; certidão de Barreto no julgamento de Fernão Cabral, IL 17065, ANTT.
[39] Estudos de Fernão Cabral, IL 17,065, Domingos Fernandes Nobre, IL 10,776; Gonçalo Fernandes IL 17,762; Iria Alvarez, IL 1,335; Cristovão de Bulhõis, IL 7,950, e Pantalião Ribeiro, IL 11,036, ANTT.
[40] Sobre a história da produção de açúcar no Brasil, e sua modelagem da experiência das ilhas do Atlântico, ver Schwartz, Sugar Plantations, 3-27. Sobre a história dos primeiros jesuítas no Brasil, a obra de Serafim Leite fornece uma base abrangente se acrítica, ver História da Companhia de Jesus, vols. 1-2, para a síntese moderna, ver Dauril Alden, The Making of an Enterprise: The Society of Jesus in Portugal, Its Empire, and Beyond, 1540-1750 (Stanford, Califórnia, 1996), 71-75, 474 - 83.
[41] A colonização inicial do Brasil repousava sobre a escravidão indígena, e a escravidão indígena persistiu mesmo após o tráfico de escravos da África estar bem estabelecido no século XVII. Jesuítas encontraram-se em uma posição desconfortável entre os colonos, cujos eles queriam alistar na sua missão evangélica entre os índios, e os índios, o quais eles queriam proteger da escravidão. Veja Thomas M. Cohen, The Fire of Tongues: António Vieira and the Missionary Church in Brazil and Portugal (Stanford, Califórnia, 1998), 13-49, e Alden, Making of an Enterprise, 479-501. Sobre o impacto devastador da escravidão indígena na Bahia do século XVI, ver Schwartz, Sugar Plantations, 28-72. Padrões semelhantes se repetiram em outros lugares em séculos posteriores, ver John Manuel Monteiro, Negros da terra: Índios e bandeirantes nas Origens de São Paulo (São Paulo, 1994); John Hemming, Red Gold: The Conquest of the Brazilian Indians (Cambridge, Massachusetts, 1978), e David Sweet, "Rich Realm of Nature Destroyed: The Central Amazon Valley, 1640-1750" (tese de doutoramento da Universidade de Wisconsin, 1974). Na legislação Portuguesa sobre a escravidão indígena, veja Beatriz Perrone-Moisés, "Índios livres e índios Escravos: Os Principios da Legislação indigenista fazer período colonial (Séculos XVI a XVIII) ", em M. Cunha, História dos Índios no Brasil, 115-32.
[42] Información de los padres y hermanos que ay de la Companhia de Jesus en el Brasil y sus occupaciones, 1584, Brasiliensis Provincia et Maragnonensis, daqui por diante, BRAS, 5, 1: 18, Archivum Romanum Societatis Iesu, daqui por diante, ARSI.
[43] Este relatório, conhecido como "Informação dos Primeiros aldeiamentos da Bahia" ou "Primeiros aldeamentos na Baía", foi atribuído a José de Anchieta. Entretanto, Hélio Abranches Viotti acredita que Anchieta não escreveu o próprio relatório, embora, como Jesuíta Provincial, certamente ele ordenou-lhe o escrito. Viotti acredita que o autor provável seja Luis da Fonseca ou possivelmente Quirício Caxa. Para o texto, veja José de Anchieta, Textos Históricos (Rio de Janeiro, 1989), 153-87. Ele também está impresso em Anchieta, Cartas: Informações fragmentos históricos e sermões (Belo Horizonte, 1988), 357-402, e Anchieta, Primeiros aldeamentos na Baía (Rio de Janeiro, 1946).
[44] Carta Ânua de 1581, em José de Anchieta, S.J., Cartas: Correspondência Ativa e Passiva, Hélio Abranches Viotti, SJ, ed. (São Paulo, 1984), 308.
[45] Schwartz observa que na década de 1550 e 1560 praticamente não houve escravos africanos nas plantações de açúcar do Nordeste. Por volta de 1591, o comércio de escravos no Atlântico trouxe um suprimento constante de escravos africanos, e, enquanto escravos indígenas ainda trabalhavam nas plantações, os africanos ocupavam os postos de trabalho qualificados. Veja Sugar Plantations, 66-68. Os jesuítas possuíam escravos africanos, já em 1558 e, em 1583 o Colégio da Bahia, possuía setenta escravos africanos, ver Alden, Making of an Enterprise, 507-09.
[46] Carta Ânua de 1581, em Anchieta, Cartas: Correspondência, 312.
[47] Na Chapada do Araripe, cerca de 180 léguas de Salvador, por exemplo, os jesuítas entraram em confronto com os caçadores de escravos Mamelucos encomendados pelos senhores de engenho. Os jesuítas intencionavam trazer mil índios para suas missões costeiras, mas comerciantes de escravos mamelucos pregaram contra os jesuítas e convenceram muitos dos índios a se voltarem contra eles. Os jesuítas voltaram com apenas 250 índios, enquanto os comerciantes escravizaram muitos dos outros, veja Carta Ânua de 1581, em Anchieta, Cartas: Correspondência, 310-11, e Anchieta, "Informação dos Primeiros aldeiamentos," Textos Históricos, 153-87. O texto "Articles touching the dutie of the Kings Majestie our Lord, and to the common good of all the estate of Brasill (sic)", in: Hakluytus Posthumus or Purchas His Pilgrimes (Glasgow, 1906), 16: 503-17, possivelmente, de autoria de Fernão Cardim, contém uma longa descrição das expedições escravistas de indígenas do mamelucos. Veja também o julgamento da Inquisição de Francisco Pires, um comerciante de escravos mameluco, que confessou à pregação contra os jesuítas, IL 17809, ANTT.
[48] Diogo Dias, Fernão Ribeiro de Sousa, Francisco d'Abreu, Gaspar de Gois, Gaspar de Palma, João d'Avila, Julio Pereira, Francisco Roiz Castilho, Manoel de Paredes, Maria de Oliveira, Nuno Pereira de Carvalho, e Pauloa de Almeida usam o termo gentio, veja suas denúncias em Denunciações da Bahia.
[49] Denúncias de João Ribeiro, Maria da Fonseca, João Brás, Antonio da Fonsequa, e Pero de Moura em Denunciações da Bahia.
[50] Denúncias de Domingos de Oliveira, Maria Antunes, João Brás e Álvaro Sanchez em Denunciações da Bahia.
[51]Há duas referências específicas aos escravos ou negros da guiné na denúncia de Maria Carvalha, Denunciações da Bahia, 550, e na denúncia de Álvaro Rodrigues no julgamento de Fernão Cabral, IL 17,065, ANTT. Nos registros da Inquisição, como nas cartas jesuíticas e relatórios da mesma época, escravos da guiné ou o menos comum Escravos de Angola foram usados para se referir aos escravos africanos. Embora a especificidade dos termos sugiram que esses escravos eram provenientes das regiões da África, a maioria dos historiadores consideram "Guiné", quando usada no século XVI, por ser um termo genérico que se refere a costa ocidental da África. Veja Pierre Verger, Trade Relations between the Bight of Benin and Bahia from the Seventeenth to the Nineteenth Centuries, Evelyn Crawford, trans. (Ibadan, 1976), 3; Bastide, African Religions of Brazil, de 46. Um escravo que depôs ao Inquisidor da visitação, na Bahia, por exemplo, foi descrito como "Duarte negro de Guiné, Filho de gentio de Angola"; Denunciações da Bahia, 408. Um mapa do século XVI rotula claramente Guiné como a terra em frente à Baía de Biafra, em frente às ilhas de São Tomé e Príncipe, de onde o comércio de escravos africanos do século XVI emanava; Fernão Vaz Dourado, Atlas c. 1576, Biblioteca Nacional, em Lisboa. A maioria dos escravos embarcados para o Brasil no final do século XVI teria vindo de São Tomé ou a partir dos portos de escravos mais recentes em Angola.
[52] Denúncias de Belchior da Fonsequa, Denunciações da Bahia, 277-78; Antonio da Fonsequa, 346-47; Joam Bras, 351; Álvaro Sanchez, 308; Bernaldimo Ribeiro da Gram, 381-82; Fernão Cardil [sic], 327-28, e João da Rocha Vicente, 447-48.
[53] A denúncia de Paulo Adorno no julgamento de Fernão Cabral, IL 17,065, ANTT.
[54] A denúncia de Álvaro Rodrigues fazia parte de um livro de denúncias do Recôncavo que foi perdido, portanto apenas os estudiosos que consultaram os verdadeiros julgamentos da Inquisição em Lisboa viram seu relatório. Siqueira, que leu Rodrigues, caracteriza a Santidade de Jaguaripe como um movimento que uniu índios, negros e mamelucos, veja "A elaboração da espiritualidade"; Vainfas, que leu Rodrigues, afirma que os escravos africanos aderiram ao movimento por razões "impossíveis para nós conhecermos"; A heresia dos Índios, 158, embora em um artigo mais recente, ele enfatiza a importância da participação dos escravos africanos na Santidade de Jaguaripe, ver Ronaldo Vainfas, "Deus contra Palmares - Representações senhoriais e Idéias Jesuíticas, "in Reis e Santos Gomes, Liberdade por um fio, 60-80. Eu discuto este artigo abaixo.
[55] A denúncia de Álvaro Rodrigues, no julgamento de Domingos Fernandes Nobre, IL 10,776, ANTT.
[56] Denunciações da Bahia, 550.
[57] Ver análise de Siqueira sobre o sincretismo da seita em "A elaboração da espiritualidade."
[58] Cristian Parker, Popular Religion and Modernization in Latin America: A Different Logic, Robert R. Barr, trans. (Maryknoll, Nova Iorque, 1996), 12-13.
[59] Parker, Popular Religion and Modernization, 232.
[60] Confissão de Gonçalo Fernandes, IL 17,762, ANTT.
[61] Confissão de Domingos Fernandes Nobre, em seu julgamento, IL 10,776, ANTT, confissão de Pantalião Ribeiro em seu julgamento, IL 11,036, ANTT.
[62] Pantalião Ribeiro usou as palavras balindo e uivando em sua confissão, IL 11,036, ANTT; vários descrevem os movimentos de agitação dos rituais, veja a confissão de Domingos Fernandes Nobre, em seu julgamento, IL 10,776, ANTT e denúncia de Paulo Adorno em o julgamento de Fernão Cabral, IL 17,065, ANTT.
[63] Carta jesuíta Anual de 1585, Annuae Litterae.
[64] O primeiro jesuíta Jerónimo Nadal definiu o ministério jesuíta, conforme indicado para aqueles "para aqueles que não tem ninguém para se importar ou, se tem alguém para cuidar, o cuidado é negligente", o que significava que os jesuítas ministraram especialmente para com os pobres e os marginalizados, ver John W. O'Malley, The First Jesuits (Cambridge, Massachussets, 1993), 72-73.
[65] "Enformacion de la Provincia del Brasil para Nuestro Padre, in: Frederic Mauro, Le Bresil au XVIIe siècle: Documentos inedits relatifs um portugais l'Atlantique (Coimbra, 1961), 143. Embora este relatório esteja assinado pelo jesuíta visitante Cristovão de Gouveia, seu provável autor é Fernão Cardim veja também as cartas Anuais de José de Anchieta, "Carta Ânua da Província do Brasil, de 1583," em Anchieta, Cartas: Correspondência, 344-61, e "Carta Ânua de 1584, ou breve narração das coisas atinentes aos colégios e residências, existentes Nesta Província do Brasil ", em Anchieta, Cartas: Correspondência, 368-86. O jesuíta da visitação para as missões também comenta repetidamente sobre a missão dos jesuítas para os escravos, ver Cristovão de Gouveia para Claudio Aquaviva, 01 de novembro de 1584, Lusitânia, a seguir, LUS, 68, 407-09 Epp, ARSI; e o relatório Gouveia de sua visita ao Brasil, "Visitas dos Padres", BRAS 2, 139-49, ARSI.
[66] Gouveia, "Visitas dos Padres", BRAS 2, 139-49, ARSI.
* Estas contas são as contas que constituem colares e outros adereços corpo-ornamentais comumente usados hoje em dia. Em inglês, beads se refere exatamente a este tipo de conta e não às contas do tipo financeiras e afins (Nota do tradutor).
[67] Confissão de Bras Dias, Confissões da Bahia, 159.
[68] Carta jesuíta anual de 1585, Annuae Litterae.
[69] Thrupp, Millennial Dreams in Action, 12.
[70] Composto por volta de 165 a.C, no auge da Revolta dos Macabeus, o Livro de Daniel profetiza que Israel vai derrubar o império grego e, posteriormente, dominar o mundo. Norman Cohn resume as imagens de Daniel: "O mundo é dominado por um mal, o poder tirânico de destruição sem limites – um poder além do mais que se imagina, não como simplesmente humano, mas como demoníaco. A tirania de que o poder vai se tornar cada vez mais escandaloso, os sofrimentos de suas vítimas cada vez mais intolerável – até que de repente a hora baterá quando os santos de Deus serão capazes de se levantar e derrubar-lo. Então os próprios santos, os escolhidos, povo santo que até agora gemeu sob o calcanhar do opressor, deve, em sua vez herdar o domínio sobre toda a terra. Este será o ponto culminante da história. " Cohn, The Pursuit do Millennium (Londres, 1957), 4.
[71] Como Cohn explica, "mais do que qualquer outra religião, os centros de religião judaica sobre a expectativa de uma futura Idade de Ouro; e o cristianismo, desenvolvido do judaísmo herdou essa expectativa." Norman Cohn, ""Medieval Millenarism: Its Bearing on the Comparative Study of Millenarian Movements", in: Thrupp, Millennial Dreams in Action, 31-43, ver também Gershom Scholem, Sabbatai Sevi: The Mystical Messiah, 1626-1676, RJ Zwi Werblowski, trans. (Princeton, NJ, 1973), 95.
[72] Rev. 19-21; ver Cohn, Pursuit of the Millennium, 7-10.
[73] Trompf, Cargo Cults and Millenarian Movements, 1. De acordo com Scholem, o intenso ódio do Império Romano (a "prostituta da Babilônia" no Livro do Apocalipse), combinada com visões da tradição apocalíptica judaica (com alguns elementos cristãos) fazem Apocalipse [ou Revelações] um dos livros mais revolucionários da literatura; Sabbatai Sevi, 95-97.
[74] Carole Myscofski, "Messianic Themes in Portuguese and Brazilian Literature in the Sixteenth and Seventeenth Centuries", Revisão Luso Brasileira 28 (1991): 77-94. Marjorie Reeves descreve os jesuítas como a uma ordem que herdou a perspectiva milenar de Joaquimism no século XVI, pois ela afirma que eles se viram acusados ​​de evangelizar o mundo e cumprindo as profecias que anunciavam a segunda vinda de Cristo, ver Reeves, The Influence of Prophecy in the Later Middle Ages: A Study in Joachimism (Notre Dame, Indiana, 1993), 274-90. As crenças milenares de Antonio Vieira, jesuíta do século XVII influente no Brasil e Portugal, são bem conhecidos, ver Cohen, Fire of Tongues. O retrato dos jesuítas desenhados por Cohen e Reeves Myscofski suporta a tese de que os jesuítas introduziram uma visão milenar no Brasil. Mas John W. O'Malley não caracteriza os primeiros jesuítas como milenaristas, mas, ele vê como prática em seu pensamento e não apocalíptica. First Jesuits, 262, 269, 322, 372.
[75] José de Anchieta, Doutrina Cristã (São Paulo, 1992), 1: 172-75.
[76] Exame cruzado da Iria Alvares em seu julgamento, IL 1,335, ANTT.
[77] Confissão de Cristóvão Bulhõis em seu julgamento, IL 7,950, ANTT.
[78] Confissão de Gonçalo Fernandes, em seu julgamento, IL 17,762, ANTT.
[79] Confissão de Luisa Rodrigues, Confissões da Bahia, 206.
[80] Cohn, Pursuit of the Millennium, 14; Daniels, Millennialism, xiv. Na Europa medieval, Cohn argumenta, visões milenaristas assumiram formas revolucionárias entre aqueles que viviam nas cidades em rápido crescimento, onde o comércio e a indústria redefiniram radicalmente a vida familiar e social. As grandes populações marginais das cidades viviam em um estado de frustração e ansiedade crônicas com poucos direitos e conexões sociais limitadas. Qualquer interrupção dos familiares, tais como a guerra, a fome, a peste, uma cruzada, tendeu a empurrar as pessoas que viviam no limite salvacionista em grupos liderados por alguém considerado santo; Pursuit of the Millennium, 30-32.
[81] A reconquista de Granada aos Mouros em 1492 e a expulsão dos judeus da Espanha, no mesmo ano, acendeu as chamas de um catolicismo militante com tons milenaristas. A expansão da Europa ocidental na África e nas Américas, muitos acreditavam, poderia culminar em uma redenção de características milenaristas. Os diários de Colombo expressam essa crença, assim como os febris batismos de índios em massa no México pelos franciscanos, que acreditavam que a conversão dos últimos remanescentes gentios iria apressar o dia da volta do Messias. Veja Roberto Rusconi, o "Book of Prophecies", editado por Cristovão Colombo, Blair Sullivan, trans. (Berkeley, Califórnia, 1997), 31-33; John Leddy Phelan, The Millennial Kingdom of the Franciscans in the New World, 2 ª ed. (Berkeley, 1970), e Jacques LaFaye, Quetzalcóatl and Guadalupe: The Formation of Mexican National Consciousness, 1531-1813, Benjamin Keen, trans. (Chicago, 1976).
[82] A crença generalizada na iminente chegada do Messias levou os judeu à uma guerra devastadora contra os romanos, que culminou, em 70 dC, com a conquista de Jerusalém e a destruição do Templo. A partir daí, dispersa, sem uma nacionalidade, os judeus continuaram a imaginar a guerra apocalíptica que iria reunir as comunidades dispersas, restaurá-los à sua terra natal, e punir seus opressores. No primeiro século d.C, as profecias apocalípticas de Esdras e Baruch retrataram o Messias como um poderoso guerreiro que não seria só derrotaria os romanos, mas vingaria Israel, destruindo todos aqueles que outrora governaram sobre os judeus, e, em seguida, estabeleceria um paraíso terrestre feliz. Na Idade Média, uma milenarista e utópica imaginação permaneceu em uma parte muito importante da perspectiva judaica. De acordo com Cohn, os massacres de judeus do décimo primeiro ao décimo quarto séculos produziram messias que lideraram movimentos milenaristas, assim como expulsou os judeus da Espanha e Portugal. Ainda mais tarde, a pregação de Sabbatai Sevi uniu praticamente toda a diáspora judaica na expectativa milenarista, no século XVII. Veja Cohn, Pursuit of the Millennium, 5-15, e Scholem, Sabbatai Sevi.
[83] Stephen Sharot, "Jewish Millenarianism: A Comparison of Medieval Communities," Comparative Studies in Society and History 22 (1980): 394-415; John Edwards, "Elijah and the Inquisition: Messianic Prophecy among Conversos in Spain, c. 1500," em Edwards, Religion and Society in Spainc. 1492 (Aldershot, Hampshire, 1996), 79-94; W. William Monter, ""The Death of Coexistence: Jews and Moslems in Christian Spain, 1480-1502", in:  The Expulsion of the Jews: 1492 and After, Raymond B. Waddington e Arthur H. Williamson, eds. (Nova Iorque, 1994), 12.
[84] Maria José Ferro Tavares, "O messianismo judaico em Portugal (1ª Metade do Século XVI)," Luso-Brazilian Review 28 (1991): 141-51; Carole Myscofski, When Men Walk Dry: Portuguese Messianism in Brazil (Atlanta, Geórgia, 1988), 47-48.
[85] Ver Tavares, "O messianismo judaico"; Myscofski, When Men Walk Dry, 52-54; Jacqueline Hermann, No reino do Desejado: A construção do fazer sebastianismo em Portugal, Séculos XVI e XVII (São Paulo, 1998), 23 -72. Os poemas estão disponíveis como Trovas do Bandarra, 9ª ed. (Porto, 1866), facs. ed. em António Machado Pires, D. Sebastião e o encoberto, 2d ed. (Lisboa, 1982), 125-45.
[86] Hermann, No reino do Desejado, Machado Pires, Dom Sebastião EO encoberto, 123-45; sobre a polêmica em torno do papel dos jesuítas nesses eventos (jesuítas foram assessores de D. Sebastião), ver Alden, Making of an Enterprise, 79 -91. Para o impacto do sebastianismo no Brasil, ver Myscofski, ""Messianic Themes in Portuguese and Brazilian Literature", 77-94.
[87] Um julgamento para o cristão-novo Heitor Antunes foi iniciado pelo Inquisidor visitante por causa de sua participação nos rituais associados com a Santidade de Jaguaripe, mas Antunes morreu antes do julgamento ser concluído; ver IL 4,309, ANTT. A nova comunidade cristã de Salvador da Bahia, no momento da segunda visita no início do século XVII tem sido estudada por Anita Novinsky, Cristãos Novos na Bahia (São Paulo, 1972).
[88] De acordo com seu acusador, Nunes recitou as Trovas, porque ele estava esperando o Messias; denúncia de João Bautista, Denunciações da Bahia, 317.
[89] A denúncia de Antonio Guedes, Denunciações da Bahia, 421-22.
[90] Carta jesuíta Anual de 1585, Annuae Litterae.
[91] Carta de Manoel Telles Barreto no julgamento de Fernão Cabral, IL 17,065, ANTT.
[92] A denúncia de Álvaro Rodrigues, no julgamento de Domingos Fernandes Nobre, IL 10,776, ANTT.
[93] A denúncia de Paulo Adorno no julgamento de Fernão Cabral, IL 17,065, ANTT.
[94] A denúncia de Álvaro Rodrigues, no julgamento de Domingos Fernandes Nobre, IL 10,776, ANTT.
[95] A denúncia de Álvaro Rodrigues.
[96] Regimento de Francisco Giraldes, no Instituto do Açúcar e Álcool, Documentos pará a história do açúcar (Rio de Janeiro, 1963), 1:. 359-60 Quando o rei Filipe II de Espanha tomou a coroa de Portugal, tornou-se Philip I de Portugal, e Francisco Giraldes (Geraldes) foi seu primeiro governador; no entanto, nunca Giraldes chegou ao Brasil. Veja Joaquim Veríssimo Serrão, Do Brasil filipino ao Brasil de 1640 (São Paulo, 1968), 35-39. O rei na verdade se refere especificamente a Jaguaripe, o que levou o historiador Stuart Schwartz a ligar estas instruções para a Santidade de Jaguaripe e sugerir que eles provam que o antecessor de Giraldes (Governador Manoel Telles Barreto) não tinha conseguido destruir a seita; veja Sugar Plantations, 48, e Stuart B. Schwartz, ""The Mocambo: Slave Resistance in Colonial Bahia", Revista de História Social 3 (1970): 313-33. No entanto, as palavras do rei são enigmáticas, pois localiza Jaguaripe entre Pernambuco e Bahia, quando na verdade, Jaguaripe fica ao sul da cidade de Salvador, no extremo sul do Recôncavo, e em nenhum lugar perto da estrada por terra para Pernambuco. A maioria dos estudiosos contam com uma cópia do Regimento existente no Rio de Janeiro, publicado em Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, 67, parte 1, 220-36, rpt. in: Documentos para a história do açúcar, e in: Marcos Carneiro de Mendonça, Raízes da Formação Administrativa do Brasil (Rio de Janeiro, 1972), 1: 259-77. Eu não encontrei o documento original.
[97] Rei Filipe para Gaspar de Sousa, 19, Janeiro de 1613, em Cartas d'el Rey Escriptas aos Sres Alvaro de Sousa e Gaspar de Sousa, transcrita por Deoclecio Leite de Macedo (Rio de Janeiro, 1989).
[98] Rei Filipe para Gaspar de Sousa, 24, Maio de 1613, in: Cartas d'el Rey. A carta afirma claramente Jaguaribe, não Jaguaripe.
[99] Eu não sou a primeira a ver esta coincidência, comparar Ivan Alves Filho, Memorial dos Palmares (Rio de Janeiro, 1982), 10-11.
[100] Diogo de Meneses ao rei Filipe, 1 de setembro de 1610, Fragmentos, Caixa 1, Maço 1, Doc. 6, ANTT. Schwartz acredita que esses números são inflados para convencer a coroa da necessidade de ação militar; Sugar Plantations, 49.
[101] Diogo de Campos Moreno, Livro que da razão do estado do Brasil-1612 (Recife, 1955), 110.
[102] Moreno, Livro que da razão, 113.
[103] Informação das terras do Brasil do P. Manuel da Nóbrega.
[104] Fernão Cardim, Do Princípio e Origem dos Índios do Brasil, in: Tratados da terra e gente do Brasil, Ana Maria de Azevedo, ed. (Lisboa, 1997), 166-67.
[105] Carta jesuíta anual de 1585, Annuae Litterae.
[106] Confissão de Gonçalo Fernandes, IL 17,762, ANTT.
[107] Confissão de Gonçalo Fernandes.
[108] Vainfas, "Deus contra Palmares", 60-64.
[109] Alves Filho, Memorial dos Palmares, 8; F. A. Pereira da Costa, Anais Pernambucanos, 1493-1590 (Recife, 1952), 2: 195-99; Décio Freitas, Palmares: A Guerra dos Escravos., 4ª ed (Rio de Janeiro, 1982), 41; todos esses autores referem-se a evidências contidas na correspondência de Diogo Botelho, que podem ser encontradas in: Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brazileiro 73, parte 1 (1910): 1-258.
[110] Pedro Paulo de Abreu Funari, "A arqueologia de Palmares - sua Contribuição de para o Conhecimento da História da Cultura afro-americana", em Reis e Santos Gomes, Liberdade por um fio, 26-51.
[111] O termo quilombo apareceu pela primeira vez na história de Angola para descrever os campos de guerra do Jaga, no Brasil, é usado para se referir a comunidades de escravos fugidos, ver Jan Vansina ", os quilombos em São Tomé, ou em busca de fontes originais," History in Africa 23 (1996): 453.
[112] Ivan Alves Filho argumenta em seu livro sobre Palmares que é difícil sustentar a tese de que a religião era uma característica importante do quilombo e que "em nenhum momento foi um comportamento característico coletivo de messianismo registrado"; Memorial dos Palmares, 16. Décio Freitas também se pergunta se Palmares pode ter sido messiânica, mas conclui que "de modo geral, rebeliões de escravos nas Américas não têm um caráter profético ou messiânico, em contraste com as rebeliões dos grupos sociais dos pobres livres"; Palmares, 48.
[113] Veja acima na nota 13 minha discussão sobre a revolta dos malês na Bahia.
[114] Gaspar Barléu, Historia dos feitos recentemente praticados durante oito anos no Brasil, Cláudio Brandão, trans. (1940;.. rpt ed, São Paulo, 1974), 253. R. K. Kent cita a expedição de Jiirgens Reijmbach, um tenente do exército holandês, que liderou uma expedição contra Palmares, em 1645 e observou que havia uma igreja em Palmares. Veja Kent, " An African State in Brazil", in: Richard Price, ed,. Maroon Societies: Rebel Slave Communities in the Americas, 2d ed. (Baltimore, Md., 1979), 178-79. A proibição de bruxaria é interessante porque nos movimentos milenaristas africanos do século XX, um objetivo de líderes milenaristas sempre foi a bruxaria tradicional e seus praticantes. Veja a discussão de Karen E. Fields como os profetas da Torre de Vigia usadaram o ​​batismo como uma forma de se livrar de bruxas; Revival and Rebellion in Colonial Central Africa (Princeton, N.J., 1985), 163-92.
[115] Relatório da expedição de Fernão Carrilho, como utilizado por Kent, " African State in Brazil", 179.
[116] Scholem, Sabbatai Sevi, 3.
[117] Fields, Revival and Rebellion; Bengt Sundkler, Bantu Prophets in South Africa (Londres, 1961), e Georges Balandier, The Sociology of Black Africa, Douglas Garman, trans. (Nova Iorque, 1970).
[118] Relações sur le Congo Laurent du Pere de Lucques (1700-1717), J. Cuvelier, trans. (Bruxelas, 1953). Para fontes adicionais e análises, veja J. Vansina, ""The Kingo Kingdom and Its Neighbours ", in: Africa from the Sixteenth to the Eighteenth Century, General History of Africa, vol. 5, BA Ogot, ed. (Londres, 1992), 573-74, e Wyatt MacGaffey, " The Cultural Roots of Kongo Prophetism", History of Religions 17 (1977): 177-93. Um culto nos primórdios do Malawi (sudeste da África), ocorreu no contexto das transformações causadas pela presença dos Portugueses no século XVI. Embora não seja descrito como milenarista, o culto Mbona, no entanto, contou com um líder redentor conhecido como Mbona ou "preto Jesus"; ver J. Matthew Schoffeleers, River of Blood: The Genesis of a Martyr Cult in Southern Malawi, c. AD 1600 (Madison, Wisconsin, 1992).
[119] Os regimes coloniais na África reduziram a quantidade de terra que os africanos poderiam possuir, aplicando segregação rígida, e enfraqueceram o poder dos chefes tradicionais, mas, ao mesmo tempo, os africanos aprenderam nas igrejas missionárias que eram iguais aos brancos aos olhos de Deus. Esta contradição óbvia começou, de acordo com Georges Balandier, para educar os africanos politicamente. Estes movimentos tiveram origem não só em igrejas negras, mas também para os movimentos políticos contra os colonizadores, que se tornaram a base para o nacionalismo Africano; Balandier, Sociology of Black Africa, 412. Balandier argumenta ainda que foi através da leitura da Bíblia que o protesto Africano e resistência adquiriu, uma forma semi-literária semi-mítica (p. 470). O estudo de Balandier sobre Simon Kimbangou, um dos famosos profetas africanos do século XX, ilustra como a combinação de colonialismo e missões conduziu à criação de igrejas africanas independentes. Conhecido como Gounza (tudo isso de uma só vez, ou messias), seu ensino rapidamente ganhou seguidores no Congo belga. Preso e deportado em 1921, ele se tornou um mártir. A medida que a igreja Kimbangist se desenvolvia, os crentes transformaram o profeta em Senhor. Eles descreveram Simon Kimbangou como o fundador de uma nova religião, uma religião negra: "Ele [Deus] nos enviou Simon Kimbangou, que é para nós o que Moisés foi para os judeus, Cristo aos estrangeiros e Mahomet aos árabes" (p. 418). Os Kimbangistas acreditavam que o salvador iria voltar e colocar um fim ao domínio do homem branco, o retorno seria acompanhado por grandes catástrofes naturais e guerra (p. 426). Veja também Georges Balandier, "Messianismes et Nationalismes en Afrique Noire," Cahiers Internationale de Sociologie 14 (1953): 41-65, e Fields, Revival e Rebellion.
[120] Wilson Jeremiah Moses, Black Messiahs and Uncle Toms: Social and Literary Manipulations of a Religious Myth (University Park, Pa., 1982), 68.
[121] Lewis V. Baldwin apresenta uma análise bem desenvolvida de temas milenares e messiânicos na religião dos escravos, que ele argumenta transitaram em igrejas negras do sul, veja There Is a Balm in Gilead: The Cultural Roots of Martin Luther King, Jr. (Minneapolis, 1991); and Baldwin, "Martin Luther King, Jr., a Igreja Negra, e a visão messiânica negra, "Jornal do Centro de Teologia Interdenominacional" 12, n. 1-2 (1984-1985): 93-108. Moses argumenta que, embora a cultura dos EUA tenha sido historicamente rica de simbolismo messiânico, é mais forte entre os negros norte-americanos. Como Baldwin, ele também vê Martin Luther King, Jr., como saindo de uma tradição religiosa do sul, protestante, e afro-americana que, historicamente, criou esperanças de um Messias; Black Messiahs and Uncle Toms. In his classic Slave Religion: The "Invisible Institution" in the Antebellum South (New York, 1980), 289-318, Albert Raboteau ilustra como os livros do Antigo Testamento de Êxodo e Daniel figuraram com destaque no cristianismo escravo. Êxodo prometeu libertação para um futuro radicalmente diferente, enquanto Daniel continha as profecias milenaristas fundamentais, que os escravos interpretaram para significar o triunfo do Norte na Guerra Civil. Cornel West discute a evolução da teologia negra de raízes cristãs proféticas durante a escravidão no Prophesy Deliverance! An Afro-American Revolutionary Christianity (Philadelphia, 1982). Baldwin, Raboteau, e Dwight N. Hopkins e George C. L. Cummings discutem como as visões de escravos do céu e a imaginação escrava do Dia do Juízo revelou uma visão milenarista, porque o céu dos escravos tornou-se ligado com a sua visão de liberdade, uma liberdade transcendente para ser realizada em Deus, e não o céu de seus senhores. Os escravos retrataram o céu como um lugar onde as famílias se reúnem, onde os erros serão endireitados, onde os escravos se extrairiam suas vinganças, e onde as comunidades seriam reconstruídas; ver Louis V. Baldwin, "'A Home in Dat Rock': Afro-American Folk Sources and Slave Visions of Heaven and Hell", Journal of Religious Thought 42 (1984): 38-57; Raboteau, Slave Religion, 291, e Hopkins e Cummings, Cut Loose Your Stammering Tongue: Black Theology in the Slave Narratives (New York, 1991), 57-59.
[122] Hopkins e Cummings, Cut Loose Your Stammering Tongue, 57.
[123] "The Confessions of Nat Turner", in: Henry Irving Tragle, The Southampton Slave Revolt of 1831: A Compilation of Source Material (Amherst, Massachusetts, 1971), 309.
[124] "Confissões de Nat Turner", 308.
[125] Maxine Lavon Montgomery, The Apocalypse in African-American Fiction (Gainesville, Flórida, 1996), 1-14.
[126] Moses, Black Messiahs, 181-95; Dennis Walker, " The Black Muslims in American Society: From Millenarian Protest to Trans-Continental Relationships ", in: Trompf, Cargo Cults and Millenarian Movements, 343-90.
[127] Bastide rejeita a relevância do sul dos EUA para o Brasil, porque as religiões de escravos dos Estados Unidos sairam de uma tradição protestante, que ele argumenta ser necessário para as profecias do Antigo Testamento a serem introduzidas; African Religions of Brazil, 361.
[128] José Alípio Goulart, Da fuga ao Suicídio: Aspectos de rebeldia dos Escravos no Brasil (Rio de Janeiro, 1972), 213-16.
[129] Ver Robert M. Levine, Vale of Tears: Revisiting the Canudos Massacre in Northeastern Brazil, 1893-1897 (Berkeley, Califórnia, 1992), 217-26; Patricia Pessar, " Millenarian Movements in Rural Brazil: Prophecy and Protest"Religião 12 (1982): 187-213, e Pessar, " Three Moments in Brazilian Millenarianism: The Interrelationship between Politics and Religion",  Revisão Luso Brasileira 28 (1991): 94-116.
[130] Ariosvaldo Figueiredo, O Negro e a Violência do Branco: O negro em Sergipe (Rio de Janeiro, 1977).
[131] E. Cunha, Rebellion in the Backlands, e Levine, Vale of Tears.

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